quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O confisco da verdade

Ricardo Noblat

Quem disse: “[A recente campanha eleitoral foi] a mais suja. Aquela em que nossos adversários utilizaram as piores armas para tentar nos derrotar. Tentaram fraudar a vontade política da maioria, usando todos os seus recursos de comunicação para manipular, distorcer e falsear”?
Aécio Neves? Fernando Henrique Cardoso? Dilma? Lula?
Claro, Lula, no aniversário de 35 anos do PT. Quem mais ousaria tanto?
A metamorfose ambulante, como um dia Lula se apresentou, teve a cara de pau de dizer mais. Do tipo:
- O PT nasceu para ser diferente. A verdade é que foi o governo deles que tentou destruir a Petrobrás. E foi o nosso governo que a resgatou, retomou os investimentos que levaram à descoberta do pré-sal e fizeram da Petrobrás a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital aberto.
Sobre a corrupção na Petrobras, nem um pedido de desculpas.
Como a vingança veio a galope, Lula, Dilma e o PT foram obrigados a amargar, um dia depois de se reunirem em Belo Horizonte, os resultados da primeira pesquisa de opinião pública aplicada, este ano, pelo Datafolha.
Despencou a popularidade de Dilma reeleita pelo “partido que veio para repelir a mentira”, segundo Lula. Dilma alcançou a pior avaliação de um presidente desde 1999.
Tinha 42% de ótimo e bom e 24% de ruim e péssimo em dezembro último. Agora, respectivamente 23% e 44%.
Metade dos que ganham até dois salários mínimos considerava o governo Dilma ótimo ou bom. Agora, 27%.
Quer dizer: 23 pontos percentuais de queda em dois meses.
Como preocupação dos brasileiros, a corrupção subiu para o segundo lugar (21%). Só perde para a saúde (26%).
Está bom ou quer mais?
Quase 80% dos entrevistados acreditam que Dilma sabia da corrupção na Petrobras. Para 52%, sabia dos desvios de dinheiro e deixou que continuassem.
Pouco menos de 50% a consideram desonesta, além de falsa (54%) e indecisa (50%). Seis em cada 10 entrevistados acham que Dilma mentiu para vencer.
Estelionato eleitoral? É disso que se trata. Chega! Basta! Fora!
Fora? Talvez exagere.
Mas quando começou o falatório pedindo o impeachment de Fernando Collor, o PT negou que fosse golpe.  Collor caiu.
O PT negou que fosse golpe a tentativa de derrubar Fernando Henrique Cardoso quando ele se reelegeu.
Ora, o impeachment está previsto na Constituição. Outro dia, nos Estados Unidos, falou-se em impeachment de Obama. Como antes no de Bill Clinton. Ninguém rebateu dizendo que era golpe.
Collor ganhou acusando Lula de estar decidido a confiscar parte da poupança dos brasileiros se vencesse.
Fernando Henrique se reelegeu garantindo que não desvalorizaria o real.
Dilma está de volta depois de ter dito que seus adversários fariam a infelicidade do povo, adotando medidas que ela jamais adotaria.
Collor confiscou a poupança. Fernando Henrique desvalorizou o real. Dilma está fazendo o contrário do que disse.
O que eles têm em comum?
Confiscaram a verdade.
Em 1986, o então presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, que congelou salários e preços. Quase virou santo.
Naquele ano, o PMDB e o PFL de Sarney elegeram 23 governadores em 23 possíveis, 40 de 43 senadores e 378 de 487 deputados federais.
Alguns dias depois, Sarney acabou com o congelamento. De passagem pelo Rio de Janeiro, dentro de um ônibus com a sua comitiva, foi apedrejado por uma multidão.
Lula diz que há um golpe em marcha para depor Dilma. Bobagem!
O golpe já foi dado. Por ele, Dilma e o PT ao encenarem a farsa eleitoral do ano passado.
Dilma Rousseff e Lula conversam durante a comemoração dos 35 anos do PT (Foto: Uarlen Valério / AFP)Dilma Rousseff e Lula conversam durante a comemoração dos 35 anos do PT (Imagem: Uarlen Valério / AFP)

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