terça-feira, 19 de novembro de 2013

“Comemorar quando a Justiça faz justiça é coisa de república de bananas. Deixemos a festa com os ‘guerreiros do povo brasileiro’. Que ergam os punhos e peçam julgamento – sempre para os outros



"O julgamento da Ação Penal 470 caminha para seu cabo deixando um rastro de justiça" (Foto: Alex De Jesus / O Tempo / Estadão Conteúdo)
Marcos Valério, o operador do mensalão, embarcando em jato da Polícia Federal para Brasília após se entregar em Belo Horizonte (Foto: Alex De Jesus / O Tempo / Estadão Conteúdo)
Post do Leitor Michel
Post-do-Leitor1Vendo a reação dos mensaleiros José Dirceu e José Genoíno ao se entregarem à polícia, ocorreu-me um trecho de um conto de Machado de Assis chamado O Lapso.
Ele cita uma teoria de Charles Lamb, um ensaísta inglês, que dizia haver “duas grandes raças humanas – a dos homens que emprestam e a dos que pedem emprestado. A primeira contrasta pela tristeza do gesto com as maneiras rasgadas e francas da segunda.”
Esses senhores tomaram emprestado não só nosso dinheiro. Tomaram também, a fundo perdido, muito do nosso respeito pela política. O principal argumento dos petistas empedernidos para se defender do mensalão é que “todo mundo rouba”. Devem achar que atirar lama os defende de alguma coisa.
Não vão descansar enquanto o suposto “mensalão tucano” não for completamente julgado. Chamei de suposto para manter a coerência, visto que o mensalão petista foi chamado de suposto até ser confirmado pelo Supremo Tribunal Federal.
Já houve, aliás, uma condenação, neste que se configura como um rascunho muito bem urdido do que viria a ser o mensalão petista, tanto na operação quanto na atuação da justiça: Nélio Brant, ex-diretor do Banco Rural, foi condenado a nove anos de cana, mas recorre em liberdade.
Como a denúncia se deu antes do esquema petista, este processo envolvendo a campanha tucana se mostra com um desenrolar mais lento ainda.
Bonito de se ver é a petezada reclamando da lentidão. Citemos Lewandovski: “Estamos com pressa de quê?”
Cinismos à parte, o julgamento da Ação Penal 470 caminha para seu cabo deixando um rastro de justiça. Levou um tempo imenso. Deu-se ampla voz ao contraditório. Respeitaram os ditames regimentais e até os nem tão regimentais assim – caso dos embargos infringentes, que foram aceitos para os crimes de formação de quadrilha, mas não para os de corrupção. Deixou-se claro, claríssimo, que aquela corte não se vergaria ao grito (grito?) das ruas.
Mas a sensação é mais de melancolia que de redenção.
Melancólico ver o PT jogar sua história no lixo e adotar ladrões de estimação. Nem o DEM fez isso com Demóstenes Torres.
Melancólico perceber a chance que foi perdida.
Melancólico constatar que o que sobrou do governo Lula foi uma presidente que mal sabe falar, enredada num ministério de bufões, mas que será melancolicamente reeleita.
Melancólico ver que ainda tem gente que acredita que mesmo com a prisão de seus principais e mais próximos “companheiros”, Lula não devia saber de nada.
Comemorar quando a Justiça faz justiça é coisa de república de bananas. Deixemos a festa com os “guerreiros do povo brasileiro”. Que ergam os punhos e peçam julgamento – sempre para os outros.
A nós restará a tristeza. A tristeza dos que emprestam.
Somos de outra raça. Ainda bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário