segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Fogo cruzado de investigados


Tupan

Quase um ano depois de ser deflagrada, a Operação Lava-Jato se tornou um campo de fogo cruzado entre os principais investigados. Em comum, as defesas de ex-diretores da Petrobras e de executivos concentram parte dos ataques no governo federal e na base aliada. A estratégia é empurrar a responsabilidade pelo comando do esquema aos partidos que apoiam o Palácio do Planalto. Como antecipou o Correio na última quinta-feira, o ex-diretor da Área Internacional da petrolífera Nestor Cerveró vai usar seu depoimento à Polícia Federal amanhã para reforçar a tese.
De acordo com o advogado Edson Ribeiro, defensor de Cerveró, ele “será contundente” ao responsabilizar o Conselho de Administração da Petrobras pela compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006, que resultou em um prejuízo de US$ 792 milhões à empresa, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo a presidente Dilma Rousseff, ela se baseou em um “parecer falho” feito por Cerveró ao votar pela aprovação do negócio, quando comandava o Conselho de Administração da Petrobras.
Enquanto atacou a petista, Cerveró também se tornou alvo de mais denúncias. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos delatores do esquema de pagamento de propina em troca de contratos com a petrolífera, disse que Cerveró pode ter recebido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões de propina no processo de compra de Pasadena. Costa admitiu ter recebido US$ 1,5 milhão para “não atrapalhar” o negócio. O trecho do depoimento dele à PF foi revelado pelo juiz Sérgio Moro para justificar nova prisão preventiva a Cerveró na última quinta-feira.

Mensalão 2
Um dia antes, na quarta-feira, foi a vez de o executivo Gerson Almada, da construtora Engevix, disparar contra o governo. Preso desde novembro do ano passado por suposta participação no esquema, ele relacionou, por meio de petição protocolada por sua defesa, o esquema de corrupção na Petrobras com um pagamento a partidos aliados análogo ao ocorrido no mensalão, descoberto em 2005. O documento nega ainda que tenha havido cartel entre as empresas.
“O pragmatismo nas relações políticas chegou, no entanto, a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares”, registra um trecho da petição. O texto diz ainda que Paulo Roberto Costa e os demais integrantes do esquema coagiram as empreiteiras, ameaçando-as. “O que ele fazia era ameaçar, um a um, aos empresários, com o poder econômico da Petrobras. Prometia causar prejuízos no curso de contratos”, diz outro trecho.
O Palácio do Planalto evitou comentar ataques específicos na semana passada. Coube ao ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, repetir a linha de defesa da presidente Dilma e da base. Na terça-feira, ele disse, mais uma vez, que não é necessária a criação de outra CPI da Petrobras no Congresso. “Num país que tem essas instituições, que tem como missão institucional combater a corrupção, Ministério Público, Controladoria-Geral da República, Polícia Federal, Poder Judiciário e Tribunal de Contas da União, alguém sustenta que esses órgãos estejam sendo maniatados por quem quer que seja para não investigar a corrupção?”, questionou.

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