segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cerveró acusa Dilma na compra de navios

Correio Braziliense


A defesa do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró descartou, na tarde de ontem, qualquer hipótese de acordo de delação premiada. “Não há a menor chance disso prosperar. No caso dele, não cabe. Chance zero. A gente nem sequer trata deste assunto. O meu cliente está inconformado com a prisão”, atestou o advogado Edson Ribeiro. No meio político, no entanto, informações de bastidores apontam que o ex-executivo da estatal estaria disposto a colaborar com as investigações para tentar redução de uma possível pena. Para isso ocorrer, ele teria que mudar de advogado. Cerveró, que tinha trânsito livre em gabinetes de deputados e senadores em Brasília, guarda mágoas da presidente Dilma Roussseff, que o apontou como o grande responsável pelo “projeto falho” que embasou a decisão para a polêmica compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006.
Em dezembro do ano passado, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal, o lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e Cerveró receberam US$ 40 milhões de propina entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México. No depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, Cerveró negou ter recebido qualquer suborno de Baiano e também que valores tivessem sido oferecidos.
Ontem, o advogado Edson Ribeiro explicou que o ex-diretor está tranquilo, porém indignado com a prisão. “A decisão sobre o habeas corpus impetrado só deve sair na terça ou na quarta-feir”, alegou. Nesta sexta-feira, a Justiça Federal recusou no fim da tarde o pedido de habeas corpus, mas a tendência é que o advogado recorra ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ele explicou que a defesa anexou à petição um parecer técnico, elaborado pelo escritório Saddy Advogados, atestando que a responsabilidade exclusiva sobre a negociação da refinaria de Pasadena é do Conselho de Administração, presidido, na época, pela presidente Dilma. O negócio gerou um prejuízo de US$ 792 milhões à Petrobras.
O criminalista ressaltou que anexou aos autos depoimentos que o ex-diretor prestou no ano passado na comissão interna da Petrobras, no Congresso Nacional e todas as cartas em que se colocou à disposição dos órgãos de investigação para falar do caso Pasadena. O advogado salientou que já pediu à Justiça que seu cliente seja ouvido de maneira detalhada sobre todo o processo de negociação de Pasadena. No depoimento que prestou à Polícia Federal, na quinta-feira, o tema não foi abordado.

“Amizade”

Ontem, a Polícia Federal afirmou que a carceragem no Paraná possui duas alas com celas destinadas a presos provisórios. Em uma dessas alas, estão abrigados o doleiro Alberto Youssef, Fernando Baiano e Nestor Cerveró, todos em celas separadas. “Cada um deles compartilha cela com um preso comum, sem ligação com a Operação Lava-Jato.”
Em depoimento, o ex-diretor declarou que “mantinha certa relação de amizade” com o lobista Fernando Soares. De acordo com delatores da Operação Lava-Jato, Baiano era o operador do PMDB no esquema de pagamento de propina por empreiteiras a políticos para obterem contratos com a Petrobras.
À frente da Diretoria Internacional até 2008, ele afirmou que todas as aquisições de equipamentos, construção de refinarias e de gasoduto passavam pela aprovação de toda a Diretoria Executiva, formada por seis diretores e pelo presidente da estatal, que à época era Sérgio Gabrielli, apadrinhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A prisão preventiva do ex-diretor foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF). No entendimento da instituição, “Cerveró continua a praticar crimes, como  ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras”.
Conforme informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, encaminhadas à Polícia Federal, o ex-diretor solicitou, em dezembro, resgate de uma aplicação no valor de R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, Cerveró teria um prejuízo de R$ 200 mil. Os recursos, segundo o MPF, seriam transferidos para a filha de Cerveró, mesmo com as perdas detectadas.
Ontem, a defesa do ex-diretor alegou que ele fez apenas uma consulta. “Ele foi ao banco e fez uma pergunta à gerente. Questionou qual seria o ônus de sacar o dinheiro para sua filha. Foi informado que teria que pagar imposto da ordem de R$ 100 mil. Por isso, ele não fez a transferência”, justificou.

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