segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nasce da investigação do Petrolão uma guerra entre o governo e a Polícia Federal


(Foto: Antônio Cruz/ABr)
O pivô da guerra: José Eduardo Cardozo acusou delegados da PF de parcialidade (Foto: Antônio Cruz/ABr)
Notas de Carlos Brickmann publicadas em diversos jornais neste domingo
carlos_brickmannTodos negarão o inegável, faz parte do jogo. Mas os desdobramentos da Operação Lava-Jato confirmam a guerra entre Poder Executivo e Polícia Federal.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acusa delegados da PF que estão no comando da operação de ter apoiado o candidato oposicionista Aécio Neves, do PSDB, e feito comentários depreciativos sobre líderes políticos do PT – embora em perfis fechados, a que só têm acesso os membros do grupo, embora sem uso de equipamento público.
E mandou abrir sindicância sobre seu comportamento. 
Bobagem: a Constituição garante a livre opinião e os delegados podem votar em quem quiserem, desde que isso não interfira em seu trabalho.
Mas o governo acha que há má-vontade do pessoal da Lava-Jato em relação a seus amigos e aliados. E já mobilizou suas tropas contra os federais: jornalistas, internautas, o mesmo grupo que martelou os adversários de Dilma durante a campanha, começaram ao mesmo tempo a bater nos novos adversários.
O objetivo é demonstrar a parcialidade dos delegados e, a partir daí, tentar anular a Lava-Jato, ou de pelo menos parte dela. Outra possibilidade é identificar a ação dos delegados com golpismo e organizações paramilitares, como o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, que existiu há pouco mais de 40 anos.
Há profissionais especializados em character assassination tentando montar dossiês não apenas dos delegados, mas também do juiz federal Sérgio Moro, que cuida do caso Lava-Jato. 
E há a luta por posições no novo mandato de Dilma. Mas essa é outra história.
Anula mas não anula
Vamos admitir que, por algum motivo, toda a Operação Lava-Jato seja anulada e sepultada, que os detidos sejam soltos com os respectivos pedidos de desculpas, que o juiz Moro e os delegados da Polícia Federal sejam transferidos para posições em que deixem de causar incômodos. E daí? 
Daí, nada. Há investigações internacionais sobre a administração da Petrobras; e essas investigações, se concluírem pela existência de irregularidades, podem levar a consequências graves para a empresa e seus dirigentes. A Petrobras é negociada na Bolsa de Nova York. Quem compra seus papéis tem direito a dividendos e aposta na valorização do investimento.
Se algum desvio for comprovado, os dividendos não terão atingido o valor que deveriam atingir; e a valorização dos papéis certamente não será a mesma. Isso pode levar à proibição de negociar na Bolsa nova-iorquina e a ações de investidores que se julgarem lesados. E lá não há MAV, o Movimento de Arregimentação Virtual petista, pressionando os adversários do governo.
O lance inicial
Nos países de Primeiro Mundo o controle da circulação de dinheiro é rígido, originalmente para dificultar o financiamento de organizações terroristas. Mas vai mais longe, para punir empresas que, em outros países, adotem práticas proibidas na matriz, como suborno, propina, etc. 
Por isso uma empresa da Holanda, a SBM Offshore, acaba de ser multada em US$ 240 milhões por pagar propinas em três países, o Brasil, a Guiné Equatorial e Angola (segundo a Procuradoria holandesa, os subornos no Brasil alcançaram US$ 139 milhões entre 2007 e 2011). A SBM Offshore, que confirmou os pagamentos e concordou com a multa, opera com plataformas de petróleo. No Brasil, aluga plataformas à Petrobras.

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