quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ESFORÇO CONCENTRADO, NÃO. RECESSO REMUNERADO

Carlos Chagas

Anos atrás havia um pouco mais de pudor, se quiserem, menos matreirice, quando no segundo semestre de anos eleitorais o Congresso funcionava pela metade, dando às folgas para as campanhas o nome de recesso remunerado. Agora chama-se esforço concentrado, exatamente a mesma coisa.
Pois no esforço concentrado desta semana o que produziram deputados e senadores, já de volta hoje a seus estados, para só retornarem a Brasília por uma semana, em setembro?
Dizer que nada será exagero, mas não erra quem acrescentar “muito pouca coisa”. O Senado perdeu-se na discussão interminável de ter havido ou não maracutaia na CPI da Petrobras. Longas tertúlias entre as bancadas do governo e da oposição para acusação e defesa de ter o palácio do Planalto instruído seus parlamentares e seus depoentes para perguntas e respostas adredemente preparadas. E mais a votação do projeto que cria 200 novos municípios. Não serão os 400 antes intentados, que Dilma Rousseff vetou, mas fizeram pela metade, agora de acordo com a presidente. Mais despesas, câmaras de vereadores, prefeitos, secretários, rombo no Fundo de Participação dos Municípios e gastos de toda ordem. Tudo com sentido político-eleitoral e com mínimas vantagens para o interior do país, porque nem a proposta de adequação das dívidas dos estados entrou em pauta.
Só que na Câmara, se não foi pior, deu empate. Os deputados empurraram com a barriga e não votaram a emenda constitucional que viabiliza os direitos trabalhistas das empregadas domésticas. Também não votaram o decreto legislativo que anula o decreto executivo das consultas populares, antes objeto da sagrada ira parlamentar diante do governo. Jogaram para o futuro a aprovação da PEC 170 que beneficiaria os aposentados por invalidez. Não houve acordo, da mesma forma, para o projeto que flexibiliza o horário da Voz do Brasil. Deixaram de apreciar a emenda que extingue o fator previdenciário. Nada de modificar a jornada de trabalho dos motoristas profissionais. Para as calendas também ficou a discussão da responsabilidade fiscal dos clubes de futebol, apesar dessas e outras iniciativas estarem na ordem do dia.
Em suma, não houve esforço, apesar de a concentração ter excedido as expectativas, pois Câmara e Senado funcionaram apenas na terça e na quarta-feira. Ontem, vale repetir, escafederam-se todos para seus estados, visando empenhar-se nas campanhas pela própria reeleição e nas disputas pelos governos estaduais e a presidência da República. Encenou-se mais um capítulo desse longo recesso remunerado, porque deixar de receber seus proventos, Suas Excelências não cogitaram…

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