terça-feira, 12 de agosto de 2014

Colômbia vira cidade da Alemanha em livro didático. Além de outras barbaridades

AUTORES PARENTES DE EX-PREFEITO DO PT

copa
Colômbia é uma das principais cidades da Alemanha. Achou absurdo? Que tal então dizer que a Alemanha tetracampeã chegou à Copa do Brasil rumo ao tri? Pois esses e outros erros foram escritos em seis mil exemplares de um livro distribuído em plena Copa para alunos da rede municipal, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, incluindo estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A publicação, dividida em dois volumes e intitulada “A copa do mundo no Brasil”, foi comprada pelo município da editora Intertexto, com dispensa de licitação, por R$ 481 mil. Cada par da obra custou aos cofres públicos R$ 80. O mesmo kit foi adquirido pelo GLOBO-Niterói, em 18 de julho, por R$ 50. Como não havia troco, e a Copa já tinha acabado, a editora deixou por R$ 40. O contrato está sendo investigado pelo Ministério Público estadual.
De acordo com o Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe-Niterói), os livros só chegaram às escolas entre a primeira e a segunda semana de julho, quando os jogos já estavam nas quartas de final e semifinal. O sindicato também questiona a utilidade do material. Segundo o Sepe, os livros foram distribuídos aos alunos apenas como um “brinde”. Não houver qualquer orientação para o uso didático do kit em sala de aula.

Além da troca do nome da cidade alemã de Colônia por Colômbia, outros erros de português, de informação, históricos e conceituais foram apontados nos livros pelo professor da Faculdade de Educação e bacharel em História da UFF Nicholas Davies, a pedido do GLOBO-Niterói.
Mesmo um fato de conhecimento geral, como o número de títulos mundiais conquistados pela seleção alemã, aparece equivocado. Na página 214, a obra ignora o fato de que o caneco do tricampeonato já fora erguido pelos alemães na Copa de 90. Davies também aponta a reprodução de mapas na publicação em desacordo com as normas do Ministério da Educação.
— Todos os mapas identificam os países por nomes em inglês ou no idioma local. Assim, Uruguai é chamado de Uruguay, Costa do Marfim de Côte d’Ivoire, Inglaterra de United Kingdom (Reino Unido) e Alemanha de Deutschland. Ou seja, os nomes não estão em português. Só com base neste critério, o livro seria rejeitado pelo MEC — afirma o educador.
Nem o Brasil escapou dos enganos da publicação, como aponta Davies. Na página 18, os autores relatam que o café era nossa principal atividade agrícola desde o Brasil-Colônia.
— O café só se estabeleceu como principal atividade agrícola do país a partir das primeiras décadas do século XIX. A principal atividade no Brasil-Colônia era a cana de açúcar.
DADOS EXTRAÍDOS DA WIKIPEDIA
O especialista aponta ainda erros como o da página 90, na qual o livro usa o termo “mulçumana” — o certo é “muçulmana”. Além disso, na página 53, a obra afirma que o príncipe Juan Carlos foi “nomeado” rei.
— Reis não são nomeados, mas sim coroados — ensina o professor.
Além dos erros de português, o livro também peca na geografia:
— Na página 25, está escrito que a Croácia localiza-se “a” sudeste da Europa. O certo é “no sudeste”, pois a Croácia fica dentro da Europa, não fora dela, ideia transmitida pela preposição “a”.
O professor também questiona as referências bibliográficas listadas nos livros. A obra cita 390 páginas da internet consultadas. Destas, 64 são da enciclopédia virtual Wikipedia. Outras 17 são do portal de vídeos YouTube.
Davies também afirma que publicações citadas na bibliografia não têm qualquer relação com o conteúdo.
— Será que o objetivo com isso foi exibir erudição? A lista cita, por exemplo Theodor Adorno (“Teoria estética”), Marilena Chauí (“Convite à filosofia”), Augusto Comte (“Os pensadores”), Antonio Gramsci (“A concepção dialética da História”). Nada extraído dessas obras é usado em parte alguma dos livros — afirma.
AUTORES PARENTES DE EX-PREFEITO DO PT
Entre os autores da obra estão a mulher do ex-prefeito petista Godofredo Pinto (2002-2008), Maria Regino D’Angelo Pinto, e o filho do político Bruno D’Angelo da Silva Pinto. Bruno também é creditado no livro como um dos responsáveis pelo projeto gráfico. A editora Intertexto é conhecida do ex-secretário de Educação Waldeck Carneiro (PT), que deixou o cargo em abril para se candidatar a deputado estadual. A empresa editou três livros escritos por Waldeck, entre eles “Movimentos instituintes em educação: políticas e práticas” e a coleção “Educação e vida nacional”. Ele também foi secretário de Educação na gestão de Godofredo. O ex-prefeito tem feito campanha pela eleição de Waldeck. Assim como o pai político, Bruno Pinto também está acostumado a frequentar o Poder Legislativo municipal: já foi assessor do vereador petista André Diniz. Maria Regina D’Angelo também já foi chefe de gabinete de Diniz.

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