terça-feira, 21 de maio de 2013

Vargas versus Barbosa


por Célio Heitor Guimarães

O paranaense André Vargas, vice-presidente da Câmara de Deputados, tomou a iniciativa de responder ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF. Indignado com o “absurdo” e falando mais como dirigente partidário do que como parlamentar, Vargas desceu a borduna no ministro, que, a seu ver, “não está a altura do cargo” e “tem pouco apreço pela democracia”. Depois, elevou o tom da repreensão, taxando Barbosa de “autoritário”, “irresponsável” e fomentador de crise.

É sabido que o ministro Joaquim Barbosa não tem a estima do PT e da companheirada desde que, como relator do processo do mensalão, mandou botar na cadeia José Dirceu, Delúbio Soares, José Genuíno e toda (ou quase toda) a quadrilha envolvida no esquema. Mas o que teria dito agora o ministro? Ah, sim, está no noticiário: em uma palestra proferida no Instituto de Educação Superior de Brasília, Joaquim Barbosa teve a audácia de dizer Que, no Brasil, os partidos (políticos) são de “mentirinha”:

– Nós não nos identificamos com os partidos que nos representam no Congresso, a não ser em casos excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partidos. E tampouco seus partidos e seus líderes partidários têm interesse em ter consistência programática ou ideológica. Querem o poder pelo poder.

Aí Barbosa emendou que o Congresso Nacional é “ineficiente” e “inteiramente dominado pelo Poder Executivo”.

Li e reli as declarações do ministro e não consegui encontrar nenhum “absurdo” no que foi dito. E muito menos “irresponsabilidade” e “autoritarismo”, capazes de revelar o autor despreparado para o cargo que ocupa e descompromissado com a democracia. Ao contrário, subscrevo as afirmações dele. joaquim Barbosa às vezes extrapola, é verdade. “Desborda das canaletas”, como costuma dizer um amigo meu. Como quando, recentemente, recepcionou em seu gabinete no STF líderes da magistratura nacional e passou-lhes um raspe. E, com esse comportamento, perde a oportunidade (e a autoridade) para promover uma necessária faxina no Judiciário brasileiro.

Na ocasião, o ministro conseguiu juntar contra si a fúria dos homens da toga e a dos da beca. Eu mesmo andei lamentando o ocorrido em um texto que escrevi mas não foi publicado porque estávamos naquele período em que o nosso Zé Beto andou fora do ar. O destempero do ministro ocorreu por conta da criação de novos tribunais federais. No mérito, até compreendi a oposição de S. Exª. Como advogado (desativado) e cidadão paranaense (ainda ativo), acho que o Paraná precisa de um Tribunal Regional Federal e faz por merecê- lo. Mas como brasileiro com alguma consciência cívica, pergunto-me: será este o momento adequado – com o país na maior pindaíba financeira – de instalá- lo? Então, conclui que, no mérito da questão, o ministro Joaquim Barbosa tinha alguma razão, mas, nos modos, fora uma lástima. O seu descomedimento e a sua agressividade não se revelaram compatíveis com as distinguidas funções que exerce e com o elevado cargo que ocupa.

Agora, porém, ao afirmar que os nossos partidos políticos são de “mentirinha”, “ineficientes”, “sem iniciativa própria” e “inteiramente dominados pelo Poder Executivo”, Barbosa está coberto de razão. E nem precisa falar disso como ministro do Supremo Tribunal Federal; basta posicionar-se como simples cidadão.

Já o nosso ilustre deputado André Vargas é que deveria conter-se e não se expor inutilmente. Principalmente depois que andou incentivando uma vaquinha destinada a pagar as multas estipuladas pelo STF aos mensaleiros condenados; depois que propôs o batismo do trecho da BR-277 que atravessa o Paraná com o nome do empreiteiro Cecílio do Rego Almeida, tido como “o maior grileiro de terras do Brasil”, entre outras façanhas; e depois que o vosso assessor (por desgraça, da banda podre dos Guimarães), especialista em difamar adversários do PT pela internet, tentou aplicar um golpezinho de parcos 180 mil reais na Caixa e na Petrobras.

Sabe, prezado conterrâneo, passarinho na muda não pia. E, para ajuntar mais uma frase feita, há momentos em o melhor é ficar longe dos holofotes, bem escondidinho.

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