segunda-feira, 27 de junho de 2011

E nós pagamos as contas...

Demétrio Magnoli, um dos mais lúcidos e corajosos intelectuais brasileiros, assina um artigo que merece reflexão sobre a Copa do Mundo. Intitulado “Festa Macabra”, o texto enumera alguns números para demonstrar que a Copa do Mundo é um “sorvedouro implacável de recursos públicos”.
“Antes das Copas, consultores associados às redes mafiosas produzem radiosas profecias sobre os efeitos econômicos do evento. Depois, quando emergem os resultados efetivos, eles já estão entregues à fabricação de ilusões no porto seguinte. A África do Sul gastou US$ 4,9 bilhões em estádios e infraestrutura, que gerariam rendas imediatas de US$ 930 milhões derivadas do afluxo de 450 mil turistas, mas só arrecadou US$ 527 milhões dos 309 mil turistas que de fato entraram no país”, comenta Magnoli.

“Eventos esportivos globais tendem a gerar ruínas urbanas mesmo em países mais inclinados a zelar pelo interesse público. Japoneses e sul-coreanos ainda subsidiam a manutenção das arenas da Copa de 2002. As dívidas contraídas para as obras da Olimpíada de Atenas e da Eurocopa de 2004 aceleraram a marcha rumo à falência da Grécia e de Portugal”, prossegue.“A África do Sul incinerou US$ 2 bilhões na construção e reforma das dez arenas da Copa. Todas, com exceção do Soccer City, de Johannesburgo, usado para jogos de rúgbi e shows, figuram hoje como monumentos inúteis, conservados pela injeção de dinheiro público. A Cidade do Cabo paga US$ 4,5 milhões ao ano pela manutenção da arena de Green Point, erguida ao custo fabuloso de US$ 650 milhões e usado apenas 12 vezes depois da Copa. Lá, desenrola-se um melancólico debate sobre a alternativa de demolição do icônico estádio, emoldurado pela magnífica Table Mountain”, continua.
Nesse balanço sinistro do cemitério de elefantes brancos gerados pela Copa, Magnoli não está computando o roubo, o desvio, a mutreta, a propina e o superfaturamento, tão caros as nossas tradições nativas. Magnoli admite um único viés positivo nessa desgraceira toda. “O verdadeiro legado positivo da Copa de 2010 foi a mudança de paradigma no sistema de transporte público urbano, pela introdução de ônibus, em corredores dedicados, e também do Gautrain, trem rápido de conexão com o aeroporto de Johannesburgo”, diz.
Ainda assim, a mudança provocou distorções na África do Sul. A torcida dos brasileiros, além daquela desempenho da Seleção, deve ser para que o transporte coletivo melhore. Esperar mais que isso parece fora da realidade.

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