segunda-feira, 30 de junho de 2014

Voluntários se dizem frustrados com incompetência da Fifa


Alguns ainda não receberam credenciais para participar da Copa
Diário do Poder
Desde 2012, voluntários passaram por longo processo seletivo
Desde 2012, voluntários passaram por longo processo seletivo
O programa de voluntariado da Fifa para a Copa do Mundo é alvo de questionamentos desde que foi anunciado, em agosto de 2012. Afinal, com o Mundial proporcionando à entidade uma receita acima dos R$ 10 bilhões, e lucro superior a R$ 5 bilhões, a Fifa teria plenas condições de remunerar os cerca de 14 mil voluntários do programa. O Ministério Público do Trabalho do Rio (MPT-RJ) até chegou a entrar no começo do mês com ação civil pública – negada pela Justiça do Trabalho – pedindo a contratação e a assinatura da carteira de trabalho de todos os voluntários.
Agora, com o torneio já pela metade, mais um problema veio à tona: alguns participantes do programa ainda não conseguiram tirar as suas credenciais como voluntários, mesmo depois de participarem de todo o processo seletivo e serem aprovados. Sem a credencial, já houve quem perdesse cinco jogos de sua escala na Copa, incluindo a vitória holandesa sobre o México, neste domingo, em Fortaleza.
As complicações tiveram início no ato de retirada das credenciais, há algumas semanas. Alguns dos selecionados pelo programa, ao invés de receberem a credencial como voluntários da Fifa, foram registrados como prestadores de serviço para as empresas Aramark e CSM Brasil, concessionárias no fornecimento de comidas e bebidas na Copa. Ambas também recrutaram, por meio do programa “Quero Vestir a Camisa”, mão de obra para trabalhar no setor de bares e lanchonetes durante o torneio. Diferente do programa de voluntariado da Fifa, o trabalho dos 12 mil selecionados para as empresas é remunerado.
DEMORA – A situação não seria muito complicada se a correção do cadastro fosse feita de maneira rápida e eficiente. O problema é que, em meio a um grande desencontro de informações, muitos voluntários ainda não conseguiram regularizar a sua situação, como a professora Mayara Galdino, de 27 anos. Natural de Fortaleza, Mayara já perdeu os cinco jogos que a cidade sediou até o momento em virtude do problema.
Ela afirma que, apesar de ter se inscrito no “Quero Vestir a Camisa”, não participou de nenhuma seleção e nem assinou contrato algum com as duas empresas – o que foi feito para o programa de voluntários.
Mayara conta como tem sido o processo, que se arrasta desde o dia 30 de maio. “Primeiro, os coordenadores do programa de voluntariado aqui de Fortaleza me instruíram a procurar a CSM para fazer o meu descredenciamento. Depois de ter feito essa solicitação, consultei a empresa mais uma vez, para saber como andava o processo, obtendo a resposta de que os dados tinham sido enviados ao COL (Comitê Organizador Local), que era quem podia me cadastrar corretamente. Quando consultei o COL, me disseram que, no sistema, eu ainda aparecia como prestadora de serviço para a CSM. Depois de muitas ligações e e-mails enviados, recebi, no dia 19, a confirmação da empresa de que eu estava descredenciada desde o dia 13, e que agora só dependia do COL. Após várias ligações para eles sem ter o problema resolvido, fui avisada que não valeria mais a pena tirar a credencial, uma vez que a Copa já tinha começado”, afirmou. “É muita incompetência.”
Já Márcio Amaro, de 41 anos, apareceu como cadastrado na CSM mesmo sem ter se inscrito no “Quero Vestir a Camisa”. O carioca afirma que processará a CSM pelo fato de a empresa ter tido acesso aos seus dados sem a sua permissão. Apesar de ter conseguido tirar a sua credencial a tempo para trabalhar no Mundial, Márcio também entrará na Justiça contra a empresa por danos morais. “Sou professor de uma escolinha de futebol aqui no Rio, perdi tempo e atividades profissionais para participar do processo”, desabafou. “Foi um desgaste muito grande até ter conseguido tirar a credencial.”
Para o advogado Sandfredy Gurgel, especialista em Direito do Trabalho e Cível, é possível processar o Comitê Organizador Local por danos morais pela demora na confirmação do cadastro. “A Copa do Mundo é um evento muito importante. É criada grande expectativa nos voluntários pela aprovação após todo o processo seletivo”, disse.
Sandfredy também explicou os motivos que levaram o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro a entrar com liminar na Justiça pedindo a contratação e a assinatura da carteira de trabalho de todos os voluntários da Copa. “Segundo a Lei 9.608, a entidade que promove o trabalho voluntário não pode ter fins lucrativos, o que, certamente, não é o caso da Fifa”, afirmou. “Também acredito que a lei está sendo deturpada.”
PELA FIFA – No Comitê Organizador Local, a posição é de que os incidentes são isolados e que, de uma forma geral, o programa tem sido um “sucesso”. Tanto a Fifa quanto o COL negam que esteja acontecendo uma debandada de voluntários e que o número de pessoas envolvidas no processo está “dentro do esperado”.
Quanto à questão trabalhista, a Fifa e o COL se defendem e apontam que todos os voluntários sabiam exatamente das condições do serviço. As regras estão esclarecidas na Lei Geral da Copa e cada um dos voluntários foi obrigado a assinar um termo de compromisso indicando que ele aceita as normas estabelecidas. (Jamil Chade e Pedro Hallack/Agência Estado)

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