Por Mary Zaidan
“Se ela, que deveria saber, não sabe, está mais do que na hora de passar a bola para quem sabe, não? Mudança já.”
Myriam Macedo, Fórum dos Leitores/O Estado de S. Paulo
Não é de hoje que os mais gabaritados analistas advertem sobre a fragilidade na condução da economia. Mas o governo Dilma Rousseff se fez de surdo. Escolheu não dar tratos à bola. Agora, a quatro meses da eleição e assistindo à insatisfação popular crescer perigosamente, atropela-se na tentativa de impedir cartão vermelho nas urnas.
Como não será Dilma – que confessou a jornalistas estrangeiros não saber por que o País não cresce – que conseguirá esse tento, entra em ação o professor Lula, o salvador da pátria.
Na semana que passou, o técnico Lula debulhou receituários econômicos. Falou de remédio para segurar a inflação, colocando-a na meta máxima de 4,5%; ensinou como se faz para crescer a partir do estímulo ao consumo e até deu um pito público no secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Foto: Reprodução / Extra
A que ou a quem serve a farsa dessa expertise fenomenal, só revelada no último semestre de mandato da sucessora?
Em primeiro lugar, a Lula. Ele pode até não gozar mais da quase unanimidade alcançada no final do seu segundo mandato, mas ainda tem músculos de sobra para enfrentar qualquer um. Seja como candidato – algo que afasta, mas não descarta para manter os adversários em alerta permanente -, seja para empurrar a complicada reeleição de Dilma.
Lula é habilidosíssimo nesse jogo. Fala dos males da carestia, incentiva a ampliação de crédito sem constrangimento de vender sonhos a milhares de famílias pobres condenadas à inadimplência. Assume os ares de combatente incansável. Discursa contra a inflação como se oposição fosse. Quem o escuta nem lembra que o governo da vez é o da sua pupila, continuidade do seu.
Ao mesmo tempo, livra Dilma de qualquer responsabilidade ao personificar os problemas econômicos no secretário do Tesouro, como se Augustin nada tivesse a ver com o governo. Dribla o público e segue apostando na ignorância do eleitor.
Sempre que pode – e Lula pode sempre – ele arremata dizeres subindo o tom contra a mídia. Diabólica, ave de mau agouro, inimiga do País, a imprensa é a responsável por todos os males internos e pelas visões negativas do mundo sobre o Brasil, acentuados pela proximidade da Copa do Mundo.
A tática de Lula de arredondar bolas quadradas pode dar certo. Mas, mesmo craque na ginga, para ele e sua candidata-presidente, melhor seria não abusar. Ânimo e dinheiro no bolso costumam caminhar juntos. Difícil um sem o outro. Quando o custo de vida não para de subir e os serviços ficam mais caros e piores, o eleitor descrê nas promessas de vitórias.
Ele sabe: em time que está perdendo, mexe-se.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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