domingo, 22 de junho de 2014

Ninguém é de ferro


Da Coluna Entrelinhas
Enquanto a bola corre no gramado e desbanca Espanha e Inglaterra, os parlamentares não trabalham. Enquanto o atacante italiano Balotelli faz graça com a rainha da Inglaterra, os parlamentares não trabalham, não senhor. Enquanto os principais candidatos à Presidência definem os times para a corrida eleitoral, os parlamentares não trabalham, é claro. Enquanto mascarados depredam lojas de veículos e bancos de São Paulo, os parlamentares não trabalham, só para variar um pouquinho. Enquanto a sociedade paga R$ 700 milhões para manter o Congresso durante a Copa, bem, os deputados também não trabalham. Vá lá, não é que eles não trabalhem. Eles trabalham para eles, em campanhas longe de Brasília, preocupados em garantir a reeleição em outubro para — não consigo evitar — não trabalharem na Câmara e no Senado a partir de 2015.
Em teoria, o trabalho no Congresso iria até 17 de julho. Na prática, os parlamentares já estão de férias desde o início da Copa, que acaba em 13 de julho. É possível encontrá-los nos estados, assistindo o Mundial ou dançando quadrilha nas festas de são-joão. Tudo atrás de votos. Eleitos, esquecem do trabalho. A última quarta-feira, um dia depois do jogo do Brasil, foi um bom exemplo do descaso dos deputados e senadores com o dinheiro do cidadão. Naquele dia havia poucos motivos para os corredores estarem vazios, afinal a partida já tinha ocorrido e, na pauta, dois assuntos importantes para o governo e a oposição: depoimentos de testemunhas do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados e uma reunião da CPI da Petrobras.
O Conselho de Ética foi pela manhã. Ali, sete testemunhas do processo contra o roliço deputado André Vargas (sem-partido-PR) deveriam ser ouvidas na apuração sobre o envolvimento do político com o doleiro Alberto Youssef, apanhado na operação da Polícia Federal. Mas, segundo relato publicado por repórteres deste Correio, apenas dois parlamentares apareceram, além do presidente e do relator. A confirmação da gazeta dos colegas, mesmo em tom de autopromoção, foi dada pelo relator, o deputado Júlio Delgado: “Eu estou aqui. Eu também gosto de Copa do Mundo e de festas juninas. Acordei hoje (na última quarta) às 3h30 para pegar um voo. Fiz a minha parte”. Os depoimentos, assim, foram adiados para a próxima semana. A chance de tal coisa ocorrer é próxima a zero, como veremos.

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