quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Além de fraude no Pronaf, o deputado Bohn Gass (PT-RS) tem outros rolos


Petista enrolado em fraude confiscava salários de assessores e ‘lavou’ dinheiro

dep Elvino Bohn Gass by richard casas
O deputado Elvino Bohn Gass foi denunciou outros escândalos, como diárias frias caixa 2, lavagem de dinheiro

O deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS), investigado pela Polícia Federal por fraude em empréstimos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), é o mesmo petista que, quando deputado estadual no Rio Grande do Sul, foi processado em 2009 pelo ex-tesoureiro da facção petista Democracia Socialista Paulo Salazar por confisco de salários de assessores, diárias frias, caixa 2 e lavagem de dinheiro em campanha.
Uma investigação da PF para comprovar denúncia de fraude em empréstimos do Pronaf encontrou referências a Elvino Bohn Gass e ao vereador de Santa Cruz do Sul Wilson Rabuske, em escuta telefônica autorizada pela Justiça. O caso, que tramitaria no Estado, foi remetido à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, por envolver deputado federal detentor de foro privilegiado.
Na transcrição de uma escuta, obtida em Brasília e divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo desta quarta-feira, um homem que a Polícia Federal identifica como ligado à Associação Santa-Cruzense dos Agricultores Camponeses (Aspac) e outro, suposto agricultor, falam que a entidade está com dificuldades para pagar R$ 1 milhão, dando a entender que a dívida está ligada às campanhas. “Muito dinheiro foi para campanha do Wilson e para campanha do Bohn Gass”, afirma um dos participantes da conversa. Em outro trecho, um dos interlocutores diz que “vai ser uma espécie de caixa dois, mas é o cara que vai ajudar a resolver isso”, em possível referência a Bohn Gass.
A investigação começou em 2012, quando agricultores da região de Santa Cruz do Sul procuraram autoridades para se queixar de cobranças de empréstimos do Pronaf que não teriam chegado às suas contas. Segundo o jornal, a Polícia Federal constatou que havia valores retirados do Banco do Brasil mediante procurações e depositados em contas da Aspac, com alguns repasses posteriores a dirigentes da entidade ou militantes do PT.
O Banco do Brasil confirmou que apurações internas estão verificando as reclamações relacionadas ao Pronaf. O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul e a Polícia Federal no Estado não comentaram o assunto.
O Supremo Tribunal Federal alegou que o caso está, neste momento com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Em nota, o Movimento dos Pequenos Agricultores, ao qual a Aspac é filiada, desautorizou a entidade a continuar acessando crédito com agricultores vinculados ao movimento e reiterou que a orientação é que o repasse seja feito na conta do agricultor ou do fornecedor. Refutou, ainda, “o uso político e eleitoral de fatos não provados”. Rabuske não retornou as ligações da reportagem, mas, em entrevista ao jornal Gazeta do Sul, no início do mês, havia negado existência de fraudes. Bohn Gass respondeu ao pedido do jornal com uma mensagem na qual diz: “Ainda não tivemos acesso aos documentos oficiais. Do que pude saber, a partir do vazamento seletivo de gravações, é que o trabalho que fiz para ajudar agricultores está sendo interpretado como parte de algo ilícito. Nunca sequer cogitei uma coisa dessas. Muito menos que a minha ajuda pudesse servir para encobrir o que quer que seja. Eu, efetivamente, tentei ajudar os agricultores. Desconheço e repudio qualquer irregularidade. Mais do que ninguém, quero que a investigação seja completa. Sempre estive e sempre estarei ao lado dos agricultores, inclusive trabalhando pela renegociação de suas dívidas toda vez que isso for justo e necessário.”
A investigação esteve por duas vezes por deflagrar operações de busca e apreensão conjuntas, com participação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Em maio, a ação foi abortada porque a Polícia Federal alegou falta de contingente às vésperas da Copa do Mundo. Nos primeiros dias de outubro foi a vez do Ministério Público pedir adiamento por estar com suas forças voltadas para a fiscalização das eleições. A Procuradoria-Geral da República vai pedir apuração dos vazamentos ocorridos no início do mês e agora por entender que prejudicaram a operação alertando os investigados.

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