REYNALDO ROCHA
Será que finalmente o Bolsa-Família será visto com seus contornos reais?
Não creio que se deva alertar os beneficiados. Estes já foram definitivamente cooPTados.
Mas sinto que frente ao desastre econômico que se intensifica diariamente – inflação, déficits, crescimento inexistente – há um sentimento de perplexidade entre os que pagam a conta.
Demorou a cair a ficha. Mas caiu. Parece-me que o Brasil está retornando da anestesia.
Somos nós que pagamos essa conta e tentam negar-nos até o direito de saber claramente como está sendo usado o dinheiro dos impostos. O dinheiro é nosso, vale insistir. Não é do governo, menos ainda do PT.
Quem são os usuários? De que modo o benefício é concedido? Quantos sabem que o cadastramento é feito pelas prefeituras? A partir de quais critérios? Quais estados que têm maior número de usuário? Quais cidades?
O Bolsa-Família também é usado como critério de separação. Somos nós e eles. Eles, os usuários. Nós, os insensíveis. Eles (do PT) são donos do programa. Nós, meros observadores do que fazem.
Não! Eu pago para que o programa exista!
O assistencialismo explícito é visível. O ser “contra” o programa – posição politicamente incorreta – hoje é assumida de modo claro. E não sinto que haja alguém que queira simplesmente extinguir o Bolsa-Família. O que se quer é um uso efetivo do auxílio, para além da dádiva oficial. Que dá o nosso dinheiro sem nenhuma contrapartida.
Já não cabe a discussão sobre quem criou o programa. Como diria Dona Dilma, é matéria vencida. O que cabe discutir são os dez anos de uso intensivo como instrumento eleitoral.
Em dez anos os “sociólogos” do PT não conseguiram formatar uma porta de saída ou um degrau. Ao contrário, orgulham-se da inclusão de novos beneficiários.
O que era uma massa amorfa, oculta atrás de um cartão, hoje se conhece melhor.
Já conhecia exemplos didáticos. Já tive empregados que recebiam a bolsa em nome de 5 filhos além do salário que eu pagava! No Ceará, uma turma de costureiras (mais de 100!) de um curso patrocinado pelo FAT preferiu abrir mão de um emprego a abandonar o programa. Queriam trabalhar “sem carteira assinada”.
O Brasil que paga impostos viu uma mulher reclamando do valor recebido, pois era insuficiente para comprar uma calça de R$ 300,00 para a filha. Outra confessou candidamente que estava depositando dinheiro na poupança do marido. São inúmeros os exemplos. Há culpa? Sim, mas que não se eleja o beneficiário deste programa como alvo. Ele aprendeu que estudar era dispensável. Que trabalhar pode ser uma má opção frente a receber sem trabalhar. Que o dinheiro mensal não é de auxílio, mas sim de esmola com nome oficial.
Em troca, os usuários dão o que têm. O voto. A adoração dos novos pais e mães da pátria! Não entendem que este dinheiro recebido por eles é derivado da obrigação de tantos outros de pagar impostos. Justos ou injustos. O que vale é a sanha arrecadadora que financia PACs e esmolas.
Por fim, bastou que a imprensa assumisse o papel que dela é esperado. Mostrar a realidade. Questionar. Expor. (Recado a tantos, não todos: notaram que funciona como instrumento da verdade e da história? Espero que esse comportamento se repita em outras áreas. Não é pedir muito.)
Bastou para que o Brasil se questionasse sobre o programa, os dez anos passados, os critérios e até alguns usuários que não precisam desse auxílio. O governo sabe disso. Insiste em manter esses beneficiários cadastrados pois o que importa não é a situação de penúria dos miseráveis. O que vale é o voto do curral eleitoral consolidado.
Pouco me importa quem pariu Matheus. Importa-me – e muito – é que, passados dez anos, continua sendo a mesma mão que balança o berço. Um sono de dez anos.
Quando Dilma diz que o programa é “eterno”, está dizendo que a miséria será sempre presente no Brasil.
Não foi ela que anunciou o fim da miséria?
Para o lulopetismo, miséria certamente é uma doença cujo remédio não é emprego ou renda. É troca de votos por esmolas. Assim, a declaração de Dilma é uma ameaça. Ao Brasil.
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