quarta-feira, 19 de junho de 2013

A PRESTAÇÃO DE CONTAS

Por Carlos Chagas
Os primeiros dias da realização da Copa das Confederações demonstra ter sido o povão  expulso dos estádios de futebol nas capitais onde os jogos se realizam.O elevado preço das entradas levou à exclusão das classes menos favorecidas da possibilidade de ocupar  as arquibancadas. De Brasília ao Rio, Recife e Fortaleza, quem pode pagar 300 reais por uma cadeira? Ainda mais se enfrentar os cambistas de sempre, que na capital federal, por exemplo, vendiam seus bilhetes a mil reais!


O operário que recebe o salário mínimo, o filho da lavadeira, o escriturário, o faxineiro e o biscateiro ficaram de fora, obrigados a assistir os espetáculos nos poucos telões armados em praças públicas ou nas frestas abertas nas vitrinas de lojas comerciais. Explica-se até porque a presidente Dilma levou monumental vaia do público  aglomerado no Estádios Mané Garrincha,de Brasília.Lá só estavam a classe média alta e, com alguma concessão, quantos conseguiram amealhar recursos retirados de suas despesas diárias. O povão, mesmo,  não conseguiu entrar nos elefantes brancos erigidos para fazer a festa das empreiteiras e de autoridades corruptas que aceitaram e até propuseram reajustar custos para obras orçadas em centenas de milhões de reais e concluídas por  mais de um  bilhão,como em Brasília.  Multiplique-se   esses efeitos pelas demais cidades onde esse certame elitista se realiza. Conclui-se, vale repetir,  pela exclusão do cidadão de segunda classe, aquele iludido pela fantasia de haver sido  elevado de categoria social. Aquele que mais torce pela seleção brasileira...


Só que não fica nisso a discriminação dos excluídos. Reparou o leitor que de alguns meses para cá o trabalhador também se vê proibido de freqüentar os supermercados que povoavam seus sonhos? A cada passagem pelas galerias de produtos variados, comprova-se a elevação de preços em progressão geométrica, apesar dos reajustes salariais nem subirem em progressão aritmética. O reflexo pode ir para a conta bancária de alguns, capazes de suportar as elevações, mas com toda certeza vai para a mesa de muitos, obrigados a restringir refeições. A alta do custo de vida tornou-se rotina nesse falso paraíso que o financiamento de fogões e geladeiras pouco afetará a maioria. Se não há dinheiro para o arroz, o feijão e a carne, por que haverá para a aquisição de fornos de micro-ondas? Pesquisa daquelas que o governo esconde revelariam com toda certeza haver  o povão voltado  às feiras livres, em especial depois do meio-dia, quando certos produtos passam a ser vendidos abaixo das tabelas.


Só isso?  Nem pensar. Outro setor que o assalariado  abandonou, ou do qual  foi abandonado, ficando do lado de fora, são  as farmácias.  Poucas vezes se viu tamanho abuso quanto no aumento dos  remédios. A farsa do controle de seus preços não  engana mais uma simples criança. O poder publico deixou de fiscalizar a utilização das diabólicas maquininhas que todos os dias corrigem e  enriquecem os laboratórios e destroem a saúde de todos nós,   pela impossibilidade de arcarmos  com despesas imprescindíveis mas impossíveis de ser enfrentadas. As farmácias constituem mais um santuário onde o brasileiro se  encontra proibido de entrar, caso não  pertença à elite privilegiada que o governo supõe ampla.


Mas tem mais. Por uma dessas voltas que o destino dá, a juventude veio para as ruas protestando contra o aumento nas passagens dos transportes coletivos.Fala-se do exagero de manifestações contra o reajuste de 20 centavos nas tarifas. É a simbologia que explodiu. Poderia ter sido diante da ganância da Fifa em lucrar com o futebol. Ou na elevação do  quilo  do tomate. Quem sabe na impossibilidade de um pai  comprar um antibiótico para o filho.  O raio caiu nas tarifas dos ônibus. Tanto faz, mas a verdade é que esgotou-se o  modelo da exploração das massas. Pouco importa se a reação acontece por obra e graça de uma administração dita do trabalhador. É falsa a afirmação, como falsos são  os paliativos e os engodos.  O governo do PT, com Dilma ou com o Lula, revela-se um instrumento submetido aos mesmos de sempre, aqueles que um dia, ou agora mesmo, terão que prestar contas.

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