quarta-feira, 18 de junho de 2014

INSS: tente a sua sorte

Diário do Poder
Bartolomeu Rodrigues

“Resolva sua vida em poucos minutos, com tranqüilidade e segurança total”.
Essa frase é repetida várias vezes enquanto você espera ser atendido ao discar 135, o número de uma Previdência Social que se apresenta de cara nova, com propaganda bonita, musiquinha ao fundo e imagens de pessoas sorrindo, livre das filas e dos aborrecimentos que tanto marcaram sua imagem no passado.
Dia desses, fiz as contas e percebi ter chegado a hora de requerer a aposentadoria. Após mais de 35 anos de contribuição ao INSS, nada que se possa comparar às robustas aposentadorias a que têm direito servidores do Estado, de autarquias etc, etc. Mas vá lá, o que vale a pena possuir, vale a pena esperar, diz o dito.
Alguns minutos de espera, animado com tanto palavrório e louvações, fui orientado a procurar a agência do órgão no posto de atendimento “Na Hora”, que também supõe, pelo nome, tudo muito ligeiro, ligeirinho.
Pois é. Documentos numa pasta debaixo do braço, mantenho o seguinte diálogo, ainda na recepção, com um sujeito com cara aborrecida:
Atendente – Do que se trata?
Eu – Requerimento para aposentadoria, ou coisa assim, trago os documentos…
Atendente – Ah, é para contagem de tempo de serviço?
Eu – Sim, isso mesmo. Tenho a relação dos benefícios e gostaria de saber o que devo fazer para requerer a aposentadoria.
Atendente – Não dá. O sistema está fora do ar.
Eu – Posso agendar para outro dia?
Atendente – Também não dá. Esse tipo de serviço é sorte.
Eu – Sorte?
Atendente – Sim. É na sorte. Se tiver sorte de funcionar, tudo bem.
Eu – Significa que eu preciso vir todos os dias bem cedinho e ficar torcendo pra ter sorte?
Atendente – Isso mesmo. Sorte.
Eu – Você está me dizendo que é uma loteria?
Atendente – Sim. É como loteria. Tem que ter sorte.
Eu – Meu caro, a casa lotérica fica ali na esquina…
Atendente – (sorriso amarelo)
Eu – E se eu não tiver sorte?
Atendente – O jeito é ficar esperando…
Eu – Sorte. Por quanto tempo?
Atendente – Não dá pra dizer. É o que já falei: se tiver sorte, uma hora vai dar certo.
Fim do diálogo.
Preciso dizer mais?

Bartolomeu Rodrigues é jornalista em Brasília

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