Carlos Chagas
Com raras exceções, entraram em greve
os metalúrgicos do ABC, com o apoio das centrais sindicais. O efeito
dominó logo chegará ao Nordeste, ampliado por conta das demissões,
aliás, já iniciadas, dos trabalhadores antes contratados pelas
empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. O movimento grevista
não é político, mas social: como sempre as grandes empresas, com ênfase
para as montadoras, demitem primeiro para obter depois, do governo,
compensações capazes de evitar novas dispensas. Só que dessa vez o clima
não está para elas. Até o PT faz vista grossa de seu apoio ao governo e
estimula o movimento paredista, menos para demonstrar sua discordância
com a presidente Dilma e a composição do novo ministério. Mais para não
ser ultrapassado pela massa operária.
Estamos na véspera de uma ebulição que a presidente
da República não conseguirá superar com os “ajustes” anunciados pelo
ministro Joaquim Levy ou com os anacrônicos conceitos da ministra da
Agricultura, Katia Abreu, ou do ministro do Desenvolvimento, Armando
Monteiro. Sem falar na supressão de prerrogativas trabalhistas.
Pelas peculiaridades de seu temperamento, Dilma
chegou ontem das férias na Bahia disposta a pagar para ver. Se partir
para o confronto, verá repetidas em janeiro de 2015 as manifestações de
julho de 2013. Em especial porque nada tem a oferecer, à exceção do
aumento de impostos, depois de haver cortado pela metade benefícios
tradicionais de quem vive do salário mínimo. O segundo governo que agora
se inicia revela um viés conservador e acoplado aos interesses das
elites. Nada tem a oferecer às massas senão sacrifícios. Junte-se a essa
clássica fórmula de debelar crises econômicas mandando a fatura para os
menos favorecidos e se terá a receita da transformação do protesto em
revolta e desta, queira Deus que não, em convulsão.
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