quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

DO PROTESTO À REVOLTA, POR ENQUANTO…

Carlos Chagas

Com raras exceções, entraram em greve os metalúrgicos do ABC, com o apoio das centrais sindicais. O efeito dominó logo chegará ao Nordeste, ampliado por conta das demissões, aliás, já iniciadas, dos trabalhadores antes contratados pelas empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras. O movimento grevista não é político, mas social: como sempre as grandes empresas, com ênfase para as montadoras, demitem primeiro para obter depois, do governo, compensações capazes de evitar novas dispensas. Só que dessa vez o clima não está para elas. Até o PT faz vista grossa de seu apoio ao governo e estimula o movimento paredista, menos para demonstrar sua discordância com a presidente Dilma e a composição do novo ministério. Mais para não ser ultrapassado pela massa operária.
Estamos na véspera de uma ebulição que a presidente da República não conseguirá superar com os “ajustes” anunciados pelo ministro Joaquim Levy ou com os anacrônicos conceitos da ministra da Agricultura, Katia Abreu, ou do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro. Sem falar na supressão de prerrogativas trabalhistas.
Pelas peculiaridades de seu temperamento, Dilma chegou ontem das férias na Bahia disposta a pagar para ver. Se partir para o confronto, verá repetidas em janeiro de 2015 as manifestações de julho de 2013. Em especial porque nada tem a oferecer, à exceção do aumento de impostos, depois de haver cortado pela metade benefícios tradicionais de quem vive do salário mínimo. O segundo governo que agora se inicia revela um viés conservador e acoplado aos interesses das elites. Nada tem a oferecer às massas senão sacrifícios. Junte-se a essa clássica fórmula de debelar crises econômicas mandando a fatura para os menos favorecidos e se terá a receita da transformação do protesto em revolta e desta, queira Deus que não, em convulsão.

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