quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Oliver: ‘Estado de dormência’



VLADY OLIVER

Finalmente a oposição resolve colocar em pratos limpos o episódio malcheiroso da operação fraudulenta da bolivariana Smartmatic no Brasil e seus bracinhos venezuelanos amestrados. Pelo que se lê no mausoléu redecorado, alguns tucanos acham ─ e os petistas também ─ que a oposição dará um tiro no pé ao auditar o resultado das eleições presidenciais recentes. Tudo é possível, inclusive nada de errado com as pobres urnas eletrônicas tupi-guaranis que já deram o que tinham que dar por aqui. Neste caso, duas coisas ficam evidentes. A primeira é que a oposição dormiu no volante mais uma vez, porque era prerrogativa dela fazer essa fiscalização DURANTE o pleito e a apuração ─ e nada fez. A segunda é que o processo eleitoral é uma caixa preta, que acaba dando margem a esse tipo de desconfiança.

Não há transparência na operação, como não há nos cartões corporativos do governo e nos empréstimos do BNDS para fazer portos em ilhotas vagabundas. Como toda desconfiança é pouca com essa quadrilha que a justiça finge não ver, quem paga a conta, o pato e a festa ─ o eleitor brasileiro ─ tem sim todo o direito de saber se houve lisura ao menos na contagem de votos, uma vez que não houve lisura nenhuma na campanha marcada por deformações como o uso desbragado da estrutura do governo, o uso criminoso de recursos públicos para pagar serviços de campanha e as mentiras deslavadas contadas diuturna e noturnamente ─ como vocifera a presidonta ─ para enganar  o público pagante e dependente dos caraminguás públicos, por aqui distribuídos.
Que a eleição foi uma fraude, todos nós sabemos. A extensão dessa fraude tem de vir à público e é papel da oposição fazê-lo, sim senhor. “Duela a quem duela”, como dizia aquele presidente que aspirava sentado. Impossível mesmo é conviver com esse relativismo pilantra, essa malemolência oportunista e essta cortina de fumaça sobre nossa incauta democracia. Sabemos, mais uma vez, que foi uma “desorientação espacial” que matou os candidatos Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva durante o pleito presidencial de outubro. Uma investigação minuciosa, mesmo que não encontre indícios criminosos, é uma peça técnica que costuma sugerir providências para que novos acidentes não se repitam.
Deixar claro o que será feito para garantir a transparência eleitoral daqui pra frente é imperioso; exigir que os farsantes da petralharia se submetam as regras de segurança também. O tiro no pé será dado se ambos resolverem sentar em cima da decência, como sempre, e esconder da sociedade, irmanadinhos, as conclusões das investigações em curso. Nada mais me espanta. Até saber que o país tem 50 milhões de encostados na tetona pública, ávidos por manter a boquinha e a mortadela, que não sabem a diferença entre uma democracia plena e um frango com batatas. Na dúvida, são capazes de comer o título eleitoral, para ver que gosto tem. O desgosto nós já vimos.

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