terça-feira, 27 de janeiro de 2015

E agora, PT?


PT
Antonio Lassance
O PT quer saber o que aconteceu para ter gerado tanto ódio contra si, por que passou tantos apuros nas últimas eleições e por que razão muitos dos beneficiados por suas políticas votaram na oposição.
Para entender do antipetismo, o partido pretende realizar uma série de debates e discussões chamando aqueles que são seus críticos.
“Podemos fazer convites pontuais a jornalistas, economistas, gente da academia, de preferência críticos ao PT, para ajudar nessa reflexão”, disse o secretário-geral do PT, Geraldo Magela (“PT chama ajuda externa para tentar mudar”, O Estado de S. Paulo, 18/1/2015).
Quer dizer que, com o antipetismo em alta e o petismo em baixa, o partido achou por bem pedir a alguém do caminhão que o atropelou para dar marcha à ré e passar novamente por cima? Será, assim, mais fácil anotar a placa?
Os debates podem até não dar em nada, mas o secretário-geral do PT pode ter alguma chance de ganhar o Nobel de Medicina se conseguir provar que chutes na canela ajudam a oxigenar as ideias.
O partido já tem uma tradição de grande generosidade com muitos de seus críticos, desde que não sejam os de esquerda.
Críticos de direita são regularmente chamados para financiar campanhas, assessorar candidatos, compor os governos e serem contratados para consultorias.
Com verbas publicitárias, o PT patrocina benevolentemente a mídia que mais desqualifica não só o partido e seus dirigentes, mas seus filiados e eleitores, que são tratados como cúmplices de bandidos ou, na melhor das hipóteses, burros.
A tevê e a mídia impressa recebem proporcionalmente muito mais em publicidade do que se justifica pelos hábitos de consumo de informação dos brasileiros, comparando-se ao que o rádio e a internet deveriam receber. O que justifica o disparate? Só pode ser amor. Não correspondido, mas, ainda assim, amor.
Em um debate profícuo, o bom senso pede que se chame quem realmente tem algo a dizer. Gente que normalmente traz questões contra e a favor de alguma coisa. Gente disposta a discutir transformações, e não apenas a fazer comentários.Mesmo que fizesse discussões abertas, ancoradas exclusivamente por petistas de carteirinha, como Tarso Genro, Marco Aurélio Garcia, Gilberto Carvalho, Emir Sader e Márcio Pochmann, o PT já proporcionaria um senhor debate.
Se preferir não filiados, seria bom lembrar que o Brasil tem nomes como Venício Lima, Bernardo Kucinski, Luis Nassif e os integrantes do coletivo Intervozes, para dicutir comunicação.
Tem João Pedro Stédile, Guilherme Boulos e os jovens do Movimento Passe Livre, para discutir participação política e relação com os movimentos sociais. Se quiser um pesquisador de renome, tem, dentre outros, Leonardo Avritzer.
Para discutir economia brasileira e cenários internacionais, tem José Luís Fiori, Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo e Paulo Nogueira Batista Jr.
Para discutir gestão pública,  combate à corrupção e reforma política, tem o juiz Márlon Reis, o ex-ministro da CGU, Jorge Hage, e, na academia, críticos muito qualificados, como Wanderley Guilherme dos Santos e Vladimir Safatle.
Independentemente da posição que tenham, seja ela favorável ou contrária ao PT e seus governos, o mais relevante é que todos esses são críticos argutos da realidade brasileira.
Acima de tudo, são pessoas com algo muito importante a dizer nesse momento por que passa o Brasil.
Se o PT quer ou não ouvi-los é problema do PT.
Antonio Lassance,  é cientista político.

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