O depoimento de Fernando Luis da Silva, ontem, no programa
Fantástico, da Rede Globo, sobre a morte do irmão, o engenheiro
Dealberto Jorge da Silva, no México, depois do consumo de drogas durante
baladas, apenas aumentou a ignorância generalizada que há sobre o
problema. Dealberto se jogou de um prédio depois de um surto de
perseguição, que Fernando também diz ter sentido. Ele deu entrevista na
casa de um advogado, o que leva a entender que uma rede de proteção foi
levantada para preservar sua imagem. A dor pela perda do irmão é mais
que compreensível, mas dar recado final para os pais de quem estava
assistindo ao programa é a mesma coisa que culpar os pais deles pela
tragédia, algo muito comum em quem não assume a própria a própria
responsabilidade no consumo e suas consequências. É muito comum em
clínicas de recuperação, onde se trata a causa principal da dependência,
ou seja, os fatores emocionais que levam o indivíduo a buscar o “mais”,
o “fora do normal” ou então tentar fugir da realidade que o incomoda –
um clichê que é fato real e só quem consegue voltar a ter o comando
sobre a própria vida consegue enxergar depois. A maneira com que foram
criados é o primeiro alvo de quem se afundou. Pai e mãe são os culpados.
Por que? Ora, porque é mais fácil arrumar culpa de fora pra dentro,
assim como crises conjugais, financeiras, profissionais, etc. Em sua
maioria, pais criam da melhor maneira que podem e sabem, pois foi como
aprenderam. Portanto, fica fácil não se olhar. Qualquer coisa é motivo.
Foi o que fez o Fernando Luis da Silva ontem, tirando o dele da reta,
assim como tirou ao dizer que só consumiu êxtase, a droga comum em raves
e coisas do gênero. Se êxtase causasse paranoia de perseguição, todas
as raves do planeta estariam condenadas ao fracasso, porque a multidão
entraria em pânico. Êxtase pode matar de uma outra forma, ou seja, pela
falta de líquido no corpo em meio ao alucinante gasto de energia. O
entrevistado disse que só experimentou poucas vezes a droga na vida.
Hummmmmm. Poderia ser mais sincero como foi comprovado em reportagens
anteriores onde revelou que ele e o irmão consumiram vários tipos de
drogas, como o álcool, o êxtase e a cocaína, essa sim, uma droga que
causa paranoia de perseguição a quem faz uso constante e em grandes
quantidades, como fazia o signatário. No cinema, há uma cena que retrata
bem isso. É do mestre Martin Scorcese em “Os Bons Companheiros”,
quando, em meio à loucura do tráfico e do consumo, o personagem vivido
por Ray Liotta sai de casa com uma pacoteira do pó e acha que está sendo
perseguido por um helicóptero da polícia. Anos atrás, em Curitiba,
aconteceu outro caso que pode servir de exemplo: uma mulher entrou no
grande canal do rio/esgoto que cuja entrada é pela rua Cândido de Abreu.
Ela se dizia perseguida pelos policiais. Na verdade estava noiada de
crack, um derivado da cocaína. Tragédias como a do catarinense acontecem
diariamente nos guetos de pobreza do país. Chacinas são cometidas para
controle de áreas do tráfico. Dependentes são capazes de matar por meia
dúzia de pedras ou moedas para obtê-las. Quando há casos como este, que
comovem principalmente porque quem vê na te-la fica pensando que aquele
que se matou era um “igual”, perde-se a oportunidade de se abordar o
problema de uma forma pelo menos razoável. Também por falta de
informação de quem está realizando a reportagem, pois o que vale é o
apelo emocional. Lamenta-se, claro, mas o número de mortes com origem na
mesma causa é enorme, mas parece que a ninguenzada não conta e são como
moscas, daí a pasmaceira de quem deveria cuidar do problema.
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