sexta-feira, 2 de maio de 2014

Planalto define estratégia para crítica a adversários

Débora Bergamasco

Brasília – A coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff já traçou a estratégia para reagir às críticas dos adversários. O plano prevê atacar as propostas econômicas do presidente do PSDB, Aécio Neves, e acusar Eduardo Campos (PSB) de ser incoerente, porque agora se posiciona contra o governo ao qual pertenceu até o fim do ano passado.
Contra o tucano, Dilma deve insistir que, se ele for eleito, o País entrará em uma grave recessão. A ideia é dizer que o PSDB cortará os financiamentos do BNDES, o que causaria desaquecimento na economia, e que Aécio pretende acabar com as desonerações para determinados setores industriais, o que provocaria demissões. O plano é propagar que o emprego dos brasileiros poderá estar em risco por causa de medidas de austeridade na economia. A campanha deve enfatizar ainda o argumento de que o projeto econômico do seu concorrente privilegia o mercado. Especialmente em encontros com empresários, Aécio tem dito que não terá medo de, se eleito, adotar “medidas impopulares” para resolver o que ele considera problemas atuais na economia brasileira.

> A petista também já preparou a estraté
gia para tentar revidar os ataques de Campos. Tentará demonstrar que suas críticas são incoerentes, pois o PSB integrava o atual governo até o fim do ano passado. No Palácio do Planalto também já existe o levantamento dos principais investimentos federais das gestões de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco, governado por Campos nos últimos oito anos. As ações no Estado nordestino serão o principal mote da propaganda eleitoral de Campos.
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> Pronunciamento. A estratégia começou a ser colocada em campo nesta semana. Na noite de anteontem, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma fez críticas à oposição que, segundo ela, aposta no “quanto pior, melhor”.
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> Afirmou também que seu governo nunca será do “arrocho salarial” nem da “mão dura contra o trabalhador”. Na fala, ela apresentou ainda outras armas de defesa que serão usadas em sua corrida à reeleição. Trata-se de minimizar os problemas de sua gestão e se eximir da culpa. Dilma deu atenção especial àqueles que lhe têm sido caros nesta pré-campanha, como o aumento de preços, o custo da energia e irregularidades na Petrobrás.
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> “Em alguns períodos do ano, sei que tem ocorrido aumentos localizados de preço, em especial dos alimentos. E esses aumentos causam incômodo às famílias, mas são temporários e, na maioria das vezes, motivados por fatores climáticos”, disse.
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> No mesmo dia, pela manhã, o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, em conversa com jornalistas, atacou os adversários nessa linha. Falou que o pré-candidato do PSB “tem, entre os vários motivos para que ele (Campos) tenha condições de ser candidato, os diversos investimentos federais que foram feitos em Pernambuco”.
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> Sobre Aécio, o ministro preferiu apontar o que considera diferenças em relação à condução da economia. “Ele (Aécio) disse que não teria medo de adotar medidas impopulares. Eu acho que o governante, de fato, não pode temer medidas difíceis. Mas, quando eu lembro do governo Fernando Henrique (PSDB) e que ele (Aécio) foi líder do PSDB, e que foi presidente da Câmara, quando ocorreram grandes malefícios para os trabalhadores, eu tenho certeza de que, quando ele fala de medidas impopulares, ele sabe do que ele está falando”.
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> Documento do PT com diretrizes do programa de Dilma também afirma que as oposições anunciam medidas “amargas” e “impopulares” caso eleitas.
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> Folha de S. Paulo – Perna curta / Coluna / Eliane Cantanhêde
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> BRASÍLIA – O pronunciamento de Dilma Rousseff para o Primeiro de Maio, a dois dias da convenção de dilmistas e lulistas, que ocorre hoje em São Paulo, foi um risco político com requintes de crueldade.
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> A mesma Dilma que aumentou o IOF para viagens internacionais bem no início das férias agora anuncia a correção de 4,5% na tabela do IR na fonte no último dia para a entrega das declarações deste ano. O Leão lambia os beiços enquanto os brasileiros ouviam a presidente anunciar um saco de bondades –para o ano que vem e o próximo governo.
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> Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto da classe média e da massa de contribuintes com essa jogada marqueteira?
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> Na outra ponta, a presidente anunciou um aumento de 10% no Bolsa Família, que atinge em torno de 36 milhões de pessoas de um universo de eleitores já naturalmente de Dilma, ou melhor, de Lula.
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> Alguém acredita que Dilma possa ganhar um só voto a mais dos beneficiários do programa a partir do pronunciamento na TV?
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> Bem, então o capital adorou o discurso, certo? Pelo contrário, só viu mais gastos e mais inflação.
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> Assessores palacianos julgam o pronunciamento capaz de estancar a queda na popularidade e nas intenções de voto, vendendo Dilma como “boazinha” diante de Aécio e Campos, “malvados” prontos para sacar medidas impopulares.
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> Parece pouca areia para o caminhão de críticas à presidente, ao seu governo e ao seu partido. E, além disso, o histórico de pronunciamentos de Dilma é meio constrangedor.
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> Num, ela meteu o dedo na cara dos bancos privados, jactando-se da queda dos juros. Mas… os juros voltaram a subir e já são maiores do que quando ela assumiu.
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> Noutro, capitalizou politicamente a redução na conta de luz. Mas… a conta já voltou a subir e vem aí aumento impostos para cobrir medidas estabanadas no setor elétrico.
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> Esperteza costuma ter perna curta.
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> Valor Econômico – Dilma Rousseff é candidata à reeleição / Coluna / Claudia Safatle
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> Dilma Rousseff é candidata à reeleição. A presidente da República deixou isso claro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores. Ela não está disposta a abrir mão da candidatura para dar lugar a Lula, o que atenderia à crescente campanha pelo “Volta Lula”, patrocinada nos últimos meses pela base aliada, segundo informação de interlocutor muito próximo do ex-presidente.
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> A disposição de Dilma para conquistar um segundo mandato ficou evidente no pronunciamento de quarta feira, em comemoração ao Dia do Trabalho, quando anunciou o reajuste de 10% para o Bolsa Família, antecipou a correção da tabela do Imposto de Renda de 4,5% no próximo ano, comprometeu-se em continuar com a valorização do salário mínimo e fez um discurso político de forte defesa da sua gestão.
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> Disse que não vai tolerar a corrupção de quem quer que seja, mostrou foco nos “mais pobres” e na “classe média” e ressaltou que, por ser um governo de mudanças, “encontra todo tipo de adversários, que querem manter seus privilégios e as injustiças do passado, mas nós não nos intimidamos”.
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> Hoje, no Encontro Nacional do PT para apresentação das diretrizes do programa de governo, Lula e Dilma estarão juntos para, uma vez mais, reafirmar o que deve ser entendido como o fim do movimento “Volta Lula”.
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> Consagrada para a disputa de outubro, Dilma não necessariamente unirá a base aliada em torno de sua campanha. Há quem considere muito provável que uma fração dos aliados migre para a candidatura de Eduardo Campos, do PSB. Nesse sentido, não falta quem realce que Campos e Lula, embora hoje em terrenos opostos, cultivam uma relação de amizade “fraternal”. Tanto que o ex-governador de Pernambuco era o candidato de Lula para a sucessão de 2018. Aécio Neves, do PSDB, é, portanto, o adversário a ser enfrentado e, na ótica do PT, liquidado.
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> Um fio desencapado atormenta os petistas e tira o sono do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O governo desconhece qual é o poder destruidor da Polícia Federal que, embora subordinada à Cardozo, tem total independência de ação e está insatisfeita com o tratamento recebido do governo. O fato de ter suas verbas podadas e de ter sido dispensada do esquema de segurança dos grandes eventos que o país sedia (Copa do Mundo e Olimpíada), nas mãos do Exército, foi um elemento a mais de irritação. Teme-se que candidaturas petistas possam ser abaladas por denúncias, ou suspeitas de envolvimento em atos de corrupção, a exemplo do que ocorreu recentemente com o candidato de Lula ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. Supõe-se no Planalto que o escândalo da Petrobras e outras denúncias que possam surgir estejam sendo expostas na mídia, a conta-gotas, por delegados e funcionários da PF. “Essa campanha vai ser sórdida,” comentou um frequente interlocutor de Lula, referindo-se ao potencial de novos escândalos envolvendo outras candidaturas.
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> Internado no dia 26 no Hospital Sírio Libanês, por causa de uma crise de labirintite, Lula estaria sob “estresse”, segundo relato de quem esteve com ele nas últimas semanas. Viria desse estado de esgarçamento emocional, agravado pela queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, a desastrada entrevista concedida à TV RTP, de Portugal. Nela o ex-presidente atacou a lisura do julgamento do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal: “O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”. Referindo-se aos petistas condenados e presos disse: “Não se trata de gente da minha confiança”.
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> Em espirituosa observação de um amigo do ex-presidente, a principal razão do estresse de Lula é porque ele percebe que está “perdendo a divindade”.
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> Um bom termômetro da preocupação do empresariado paulista com a possibilidade de Dilma Rousseff conquistar mais quatro anos de mandato foi o evento promovido pelo banco Itaú, na segunda feira.
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> A instituição convidou seus maiores clientes para ouvir Aécio Neves. O candidato apresentou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como o nome forte de seu eventual governo. Após a explanação de Fraga sobre como está a economia e o que deve ser feito para recolocá-la nos trilhos do crescimento, ambos foram aplaudidos de pé.
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> O maior receio do setor privado em geral é que, vitoriosa nas eleições, Dilma Rousseff se sinta encorajada a redobrar a aposta nas suas convicções, reproduzindo a forma intervencionista e autoritária com que gere a economia do país. “Se Dilma vencer, o risco é de que na posse, em janeiro de 2015, seu governo complete oito anos. Ou seja, comece envelhecido”, comentou um aliado de Lula que conviveu e conhece bem a presidente.
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> A Confederação Nacional da Indústria começa a fazer o dever de casa para se apresentar aos candidatos à sucessão presidencial. Elegeu dez temas que o setor considera prioritários para recuperar a produtividade, ganhar competitividade e voltar a crescer a taxas mais expressivas. São eles: educação, ambiente macroeconômico, segurança jurídica e burocracia, eficiência do Estado, desenvolvimento de mercados, relações de trabalho, financiamento, infraestrutura, tributação e inovação.
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> Segundo Robson Andrade, presidente da CNI, a ideia é mostrar “onde estamos” e “onde queremos chegar”. Para isso, cada tema será acompanhado de um diagnóstico do que está errado e o que deve ser feito para melhorar. A indústria vai apresentar os projetos já escritos para os candidatos em fim de junho. Para julho, espera ter encontros com cada um dos presidenciáveis para arrancar deles compromissos firmes com a agenda do setor.
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> Serão 42 projetos envolvendo desde uma nova redação para legislações relativas a pagamentos de tributos e redução da burocracia a um conjunto de propostas normativas para o licenciamento ambiental, passando pela legalização das negociações coletivas no mercado de trabalho.

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