- Esmael Morais
A senadora Gleisi Hoffmann comandou a bancada aliada do PT no Senado, no último dia 19, na derrubada de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduzia a maioridade penal de 18 para 16 anos.
Dos 11 senadores que derrubaram a PEC – na Comissão de Constituição e Justiça – dez são do PT ou de partidos aliados do governo Dilma Rousseff. Com essa iniciativa, Gleisi garantiu que vai continuar a valer a ‘bolsa-impunidade’ para menores criminosos.
A PEC 33/2012, de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), permitiria a aplicação de penas de adultos a menores envolvidos em crimes hediondos, como homicídio qualificado (intencional, meio cruel, motivo torpe), extorsão mediante sequestro e estupro.
A ação de Gleisi, garantindo a continuação da impunidade, está na contramão da sociedade brasileira que cobra uma resposta para o brutal aumento dos crimes cometidos por menores.
De cada dez brasileiros, nove são a favor da redução da maioridade penal. É o que diz pesquisa CNT/MDA em 134 municípios de 20 estados. Nada menos que 92,7% querem a redução da maioridade. O Datafolha verificou que o apoio à mudança é crescente. Em 2003 83% queriam a redução. Em 2006 foi para 88% e em 2013 chegou a 93%.
A inquietação dos brasileiros com os crimes cometidos por menores não é casual. Em 1998, em cada 20 casos de homicídio, um era cometido por menores. O percentual dobrou e já é de um em cada dez. A cada 3 horas um brasileiro morre nas mãos de um menor.
A sociedade precisa dispor de meios para lidar com menores de grande periculosidade. Hoje, um adolescente que comete qualquer tipo de crime pode ficar internado por, no máximo, três anos e até os 21 anos. E o crime não fica nem registrado nos seus antecedentes.
A responsabilidade criminal nos Estados Unidos ocorre a partir dos 7 anos, na Escócia a partir dos 8, na Inglaterra aos 10, na França aos 13, na Itália, Japão e Alemanha, aos 14, na Argentina aos 16. O envolvimento de menores com o crime é um problema mundial. Nos Estados Unidos um em cada quatro crimes violentos envolve menores. O problema é praticamente o mesmo em toda parte. O que muda é o tratamento dado pelas autoridades.
A proposta derrubada pelo PT e seus aliados é bastante moderada face à escalada de violência que vivemos e comparada ao rigor de outros países. A PEC 33/2012 prevê a aplicação da lei penal a menores de 16 anos envolvidos em crimes hediondos, desde que um laudo médico comprove sua compreensão sobre a gravidade do delito. Que a medida seja encaminhada por promotor da infância e da juventude e julgada por juiz de vara especializada. A pena seria cumprida em estabelecimento prisional separado de presos adultos.
Gleisi Hoffmann usou – como argumento para derrubar o projeto – o fato Brasil ser signatário de convenção da ONU, que recomenda que “não impor a crianças e adolescentes penas aplicadas a adultos”.
Então estamos entendidos. Cidadãos de bem, que forem assaltados, feridos, sequestrados, tiverem parentes mortos, ou filhas estupradas por menores, devem encaminhar suas reclamações para a ONU.
Ou, quem sabe, ligar para a senadora Gleisi Hoffmann, que certamente saberá explicar porque menores – por mais criminosos e cruéis que sejam – merecem toda a proteção, o carinho e o amparo do estado brasileiro.
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