Publicado no Observatório da Imprensa
CARLOS BRICKMANN
Raquel Scheherazade, a polêmica âncora do SBT, está no alvo das patrulhas bem-pensantes por ter expressado sua opinião. Um parlamentar quer que o Ministério Público a processe, vários patrulheiros de Internet a insultam pesadamente, um deles chegou a dizer que ela não tem nada de manifestar opinião ─ basta ler as notícias e pronto.
Qual o crime de Raquel Scheherazade? O pecado original, acredita este colunista, é ter opinião própria, opinião esta que não coincide com as posições “Lula é o maior estadista da História” e “Dilma está sempre certa, mesmo que esteja errada”, obrigatórias entre os patrulheiros bem-pensantes. Depois vêm os pecados propriamente ditos: Raquel, explosiva e direta, comenta ao vivo, com os inevitáveis erros da TV ao vivo e com os exageros de quem acaba de assistir a uma notícia que a deixou indignada. No caso atual, Raquel Scheherazade, comentando a cena horrorosa do garoto preso a um poste pelo pescoço, com um cadeado de pendurar bicicletas, disse uma série de barbaridades, em apoio ao ato desumano, sugerindo até que quem fosse contrário à sua opinião aproveitasse a oportunidade e levasse para casa algum delinquente, para cuidar dele como acha que as autoridades deveriam cuidá-lo. Este colunista está do outro lado. E o próprio SBT informou que as opiniões de Raquel Scheherazade são dela, não da emissora ─ o que é um excelente sinal, de que a rede, como nos tempos de Bóris Casoy, não interfere na opinião de seus principais âncoras.
Apologia ao crime? Não, não foi: este colunista (que, como já disse, se opõe ao pensamento da âncora neste caso) acredita que houve exagero, provocado pela indignação de assistir ao incessante desfile dos que defendem os pobres coitados que cometem crimes e condenam os excessos dos que se opõem a eles.
Um deputado do PSOL, indignadíssimo, quer que o Ministério Público processe Raquel Scheherazade pelos comentários que fez. O mesmo parlamentar, entretanto, silenciou há poucas semanas, quando um cavalheiro que não concorda com as ideias da âncora do SBT propôs que ela fosse estuprada. Ele silenciou; muita gente silenciou com ele ─ inclusive uma das principais líderes femininas do PSOL, a gaúcha Luciana Genro, de quem se esperaria o protesto contra a apologia do estupro.
Há quem acredite que parte da guerra contra Raquel Scheherazade se deva a ser mulher e jovem ─ quem esta pirralha pensa que é para ter opinião? Este colunista discorda: ela é atacada por pensar diferente dos patrulheiros e ter a coragem de expor sua opinião ao vivo, de forma contundente, muitas vezes contundente a ponto de ferir os sentimentos de quem não concorda com ela.
Acontece que, nos tempos em que o comunismo era revolucionário e a esquerda radical estudava e lutava, em vez de procurar emprego em órgãos públicos, uma das brilhantes ativistas e pensadoras marxistas, Rosa Luxemburgo, deu uma definição impecável de liberdade, válida naquela época, válida hoje, válida sempre: “A Liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem pensa diferente de nós.” Discordar de Raquel Scheherazade, trocar de canal quando ela aparece, enviar cartas de protesto, desde que respeitosas, em linguagem civilizada, perfeito; tentar fazer com que ela perca o emprego ou seja processada por atrever-se a discordar da opinião de um grupo é fascismo.
Como diria Mao Tsé-tung algumas dezenas de anos após a frase irretocável de Rosa Luxemburgo, “deixai crescer as cem flores”. Não sufoquemos o debate.
CARLOS BRICKMANN
Raquel Scheherazade, a polêmica âncora do SBT, está no alvo das patrulhas bem-pensantes por ter expressado sua opinião. Um parlamentar quer que o Ministério Público a processe, vários patrulheiros de Internet a insultam pesadamente, um deles chegou a dizer que ela não tem nada de manifestar opinião ─ basta ler as notícias e pronto.
Qual o crime de Raquel Scheherazade? O pecado original, acredita este colunista, é ter opinião própria, opinião esta que não coincide com as posições “Lula é o maior estadista da História” e “Dilma está sempre certa, mesmo que esteja errada”, obrigatórias entre os patrulheiros bem-pensantes. Depois vêm os pecados propriamente ditos: Raquel, explosiva e direta, comenta ao vivo, com os inevitáveis erros da TV ao vivo e com os exageros de quem acaba de assistir a uma notícia que a deixou indignada. No caso atual, Raquel Scheherazade, comentando a cena horrorosa do garoto preso a um poste pelo pescoço, com um cadeado de pendurar bicicletas, disse uma série de barbaridades, em apoio ao ato desumano, sugerindo até que quem fosse contrário à sua opinião aproveitasse a oportunidade e levasse para casa algum delinquente, para cuidar dele como acha que as autoridades deveriam cuidá-lo. Este colunista está do outro lado. E o próprio SBT informou que as opiniões de Raquel Scheherazade são dela, não da emissora ─ o que é um excelente sinal, de que a rede, como nos tempos de Bóris Casoy, não interfere na opinião de seus principais âncoras.
Apologia ao crime? Não, não foi: este colunista (que, como já disse, se opõe ao pensamento da âncora neste caso) acredita que houve exagero, provocado pela indignação de assistir ao incessante desfile dos que defendem os pobres coitados que cometem crimes e condenam os excessos dos que se opõem a eles.
Um deputado do PSOL, indignadíssimo, quer que o Ministério Público processe Raquel Scheherazade pelos comentários que fez. O mesmo parlamentar, entretanto, silenciou há poucas semanas, quando um cavalheiro que não concorda com as ideias da âncora do SBT propôs que ela fosse estuprada. Ele silenciou; muita gente silenciou com ele ─ inclusive uma das principais líderes femininas do PSOL, a gaúcha Luciana Genro, de quem se esperaria o protesto contra a apologia do estupro.
Há quem acredite que parte da guerra contra Raquel Scheherazade se deva a ser mulher e jovem ─ quem esta pirralha pensa que é para ter opinião? Este colunista discorda: ela é atacada por pensar diferente dos patrulheiros e ter a coragem de expor sua opinião ao vivo, de forma contundente, muitas vezes contundente a ponto de ferir os sentimentos de quem não concorda com ela.
Acontece que, nos tempos em que o comunismo era revolucionário e a esquerda radical estudava e lutava, em vez de procurar emprego em órgãos públicos, uma das brilhantes ativistas e pensadoras marxistas, Rosa Luxemburgo, deu uma definição impecável de liberdade, válida naquela época, válida hoje, válida sempre: “A Liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem pensa diferente de nós.” Discordar de Raquel Scheherazade, trocar de canal quando ela aparece, enviar cartas de protesto, desde que respeitosas, em linguagem civilizada, perfeito; tentar fazer com que ela perca o emprego ou seja processada por atrever-se a discordar da opinião de um grupo é fascismo.
Como diria Mao Tsé-tung algumas dezenas de anos após a frase irretocável de Rosa Luxemburgo, “deixai crescer as cem flores”. Não sufoquemos o debate.
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