José Cruz/ABr e Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
Leonardo Meirelles
prestou depoimento como testemunha no processo que investiga a quebra de
decoro parlamentar do deputado devido ao seu envolvimento com o doleiro
Alberto Youssef
Folhapress
Em
depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados nesta
quarta-feira (2), um dos sócios da Labogen, Leonardo Meirelles, admitiu
que o deputado André Vargas (sem partido-PR) foi o responsável por
indicar o laboratório para o Ministério da Saúde para a formalização de
um contrato de R$ 35 milhões para produção de medicamentos. Ele prestou
depoimento como testemunha no processo que investiga a quebra de decoro
parlamentar do deputado devido ao seu envolvimento com o doleiro Alberto
Youssef.
Segundo Meirelles, Vargas foi apresentado a ele em São Paulo pelo doleiro no ano passado. Youssef teria indicado o deputado como alguém que poderia ajudar na viabilização do contrato. "[Youssef] me disse que procurasse o deputado e apresentasse para ele o projeto do laboratório que era de interesse para a saúde pública do país. [...] Estive com deputado algumas vezes onde coloquei para ele que o projeto era bom para o país. [...] Diante disso, fomos encaminhados para a Secretaria de Insumos Estratégicos do Ministério", afirmou.
No entanto, em outro momento do depoimento, Meireles se contradiz e afirma que esteve com o deputado na Câmara e que ele teria feito apenas um "encaminhamento técnico" do projeto. "Não teve intermediação de Vargas. Mostrei para ele o projeto e ele só fez o encaminhamento técnico", disse. O empresário, no entanto, negou que tenha realizado reuniões com Vargas e Youssef ao mesmo tempo para tratar da Labogen e disse que Vargas não foi com ele ao Ministério da Saúde.
De acordo com investigações da Polícia Federal na Operação Lava Jato, a Labogen teria sido usada para lavar US$ 37 milhões (R$ 85 milhões) oriundos dos negócios de Youssef ao simular as importações. Vargas teria auxiliado o doleiro a conseguir um contrato no ministério para o laboratório no valor de R$ 31 milhões. Em uma das mensagens interceptadas pela PF, Vargas e o doleiro aparecem conversando sobre a Labogen e tratam o negócio como a oportunidade de "independência financeira". A suspeita da polícia é de que o doleiro seja o verdadeiro dono do laboratório.
Para o contrato com o Ministério da Saúde, o laboratório se associou com a EMS dentro de um programa do Ministério da Saúde denominado PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo). O objetivo deste programa é transferir para laboratórios públicos a produção de medicamentos. No caso, o Laboratório Farmacêutico da Marinha era o parceiro público das outras duas empresas.
O depoimento de Meireles contradiz o que disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos principais defensores de Vargas no Congresso desde que as denúncias foram publicadas. Também em depoimento ao Conselho de Ética, ele afirmou nesta terça-feira (01) ter certeza que o deputado não tinha feito lobby para a Labogen no ministério.
Meirelles foi preso pela Operação Lava Jato em março, mas decidiu colaborar com a PF e foi solto. Em dezembro de 2013, o laboratório conseguiu fechar uma parceria com o ministério da Saúde. Na época, a pasta era comandada por Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo pelo PT.
Lavagem de dinheiro
O empresário confirmou ainda que Youssef deteve o controle das contas da empresa entre 2009 e 2010. De acordo com Meireles, Youssef utilizou a empresa para fazer importações e exportações de insumos farmacêuticos. Na época, a Labogen tinha uma dívida de R$ 54 milhões e desde que foi adquirida por Meirelles em 2008, o único contrato firmado com o poder público foi com o Ministério da Saúde no ano passado.
O doleiro também teria feito um aporte de cerca de R$ 1,2 milhão na Labogen para viabilizar a construção da nova fábrica e para garantir o capital de giro inicial da empresa. Questionado sobre o que teria recebido de Youssef em troca da disponibilização das contas para empresa para o doleiro, Meirelles afirmou que recebia 1% sobre cada transação.
Segundo o empresário, mesmo com o passivo milionário, ele decidiu comprar o laboratório porque tinha informações de que o governo iria modificar a legislação para as indústrias farmoquímicas nacionais. Ele não explicou de onde obteve a informação mas disse que Vargas não estaria envolvido na mudança da legislação.
De acordo com Meirelles, entre 2008 e 2010, a empresa não teve nenhuma atividade porque estava em um processo de reformulação do seu parque industrial. Para os deputados integrantes do conselho, ficou claro que a empresa era utilizada apenas para as movimentações financeiras praticadas por Youssef. Meirelles rebateu: "A empresa nunca efetuou nenhuma importação e exportação fictícia. Eram pagamentos para fornecedores estrangeiros", disse e afirmou que todos os impostos relativos às transações foram pagos.
Para o relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o depoimento de Meirelles revela que houve tráfico de influência junto ao Ministério da Saúde para a viabilização do contrato da Labogen. "A contradição apresentada por ele deixa claro que houve alguma coisa. Você adquirir uma empresa com R$ 54 milhões de passivo e essa empresa não voltar a ter a atividade que tinha anteriormente, simplesmente para ser uma empresa que tinha relações com o senhor Youseef e que ele usou as contas da Labogen para fazer evasão de divisas e depois essa empresa ter uma intermediação de contratos com o min da saúde e da Marinha deixa claro o tráfico de influência. Falta agora confirmar quem fez esse tráfico, quem fez essa intermediação via Youssef para a Labogen ter essas vantagens aqui no governo federal", disse.
O outro sócio da empresa, Esdras Ferreira, também compareceu ao Conselho mas não respondeu a nenhum questionamento. Ele apenas disse não conhecer Vargas. "Senti que os dois estavam instruídos a defender o deputado. Eles foram treinados para isso", disse Delgado.
Na semana que vem, o Conselho ouvirá as testemunhas de defesa indicadas por Vargas. Os advogados do deputado voltaram a reclamar hoje que não tiveram acesso às informações repassadas ao conselho pelo STF (Supremo Tribunal Federal) do inquérito que tramita na Corte. Eles ainda estudam se irão questionar o processo na Justiça.
Segundo Meirelles, Vargas foi apresentado a ele em São Paulo pelo doleiro no ano passado. Youssef teria indicado o deputado como alguém que poderia ajudar na viabilização do contrato. "[Youssef] me disse que procurasse o deputado e apresentasse para ele o projeto do laboratório que era de interesse para a saúde pública do país. [...] Estive com deputado algumas vezes onde coloquei para ele que o projeto era bom para o país. [...] Diante disso, fomos encaminhados para a Secretaria de Insumos Estratégicos do Ministério", afirmou.
No entanto, em outro momento do depoimento, Meireles se contradiz e afirma que esteve com o deputado na Câmara e que ele teria feito apenas um "encaminhamento técnico" do projeto. "Não teve intermediação de Vargas. Mostrei para ele o projeto e ele só fez o encaminhamento técnico", disse. O empresário, no entanto, negou que tenha realizado reuniões com Vargas e Youssef ao mesmo tempo para tratar da Labogen e disse que Vargas não foi com ele ao Ministério da Saúde.
De acordo com investigações da Polícia Federal na Operação Lava Jato, a Labogen teria sido usada para lavar US$ 37 milhões (R$ 85 milhões) oriundos dos negócios de Youssef ao simular as importações. Vargas teria auxiliado o doleiro a conseguir um contrato no ministério para o laboratório no valor de R$ 31 milhões. Em uma das mensagens interceptadas pela PF, Vargas e o doleiro aparecem conversando sobre a Labogen e tratam o negócio como a oportunidade de "independência financeira". A suspeita da polícia é de que o doleiro seja o verdadeiro dono do laboratório.
Para o contrato com o Ministério da Saúde, o laboratório se associou com a EMS dentro de um programa do Ministério da Saúde denominado PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo). O objetivo deste programa é transferir para laboratórios públicos a produção de medicamentos. No caso, o Laboratório Farmacêutico da Marinha era o parceiro público das outras duas empresas.
O depoimento de Meireles contradiz o que disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos principais defensores de Vargas no Congresso desde que as denúncias foram publicadas. Também em depoimento ao Conselho de Ética, ele afirmou nesta terça-feira (01) ter certeza que o deputado não tinha feito lobby para a Labogen no ministério.
Meirelles foi preso pela Operação Lava Jato em março, mas decidiu colaborar com a PF e foi solto. Em dezembro de 2013, o laboratório conseguiu fechar uma parceria com o ministério da Saúde. Na época, a pasta era comandada por Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo pelo PT.
Lavagem de dinheiro
O empresário confirmou ainda que Youssef deteve o controle das contas da empresa entre 2009 e 2010. De acordo com Meireles, Youssef utilizou a empresa para fazer importações e exportações de insumos farmacêuticos. Na época, a Labogen tinha uma dívida de R$ 54 milhões e desde que foi adquirida por Meirelles em 2008, o único contrato firmado com o poder público foi com o Ministério da Saúde no ano passado.
O doleiro também teria feito um aporte de cerca de R$ 1,2 milhão na Labogen para viabilizar a construção da nova fábrica e para garantir o capital de giro inicial da empresa. Questionado sobre o que teria recebido de Youssef em troca da disponibilização das contas para empresa para o doleiro, Meirelles afirmou que recebia 1% sobre cada transação.
Segundo o empresário, mesmo com o passivo milionário, ele decidiu comprar o laboratório porque tinha informações de que o governo iria modificar a legislação para as indústrias farmoquímicas nacionais. Ele não explicou de onde obteve a informação mas disse que Vargas não estaria envolvido na mudança da legislação.
De acordo com Meirelles, entre 2008 e 2010, a empresa não teve nenhuma atividade porque estava em um processo de reformulação do seu parque industrial. Para os deputados integrantes do conselho, ficou claro que a empresa era utilizada apenas para as movimentações financeiras praticadas por Youssef. Meirelles rebateu: "A empresa nunca efetuou nenhuma importação e exportação fictícia. Eram pagamentos para fornecedores estrangeiros", disse e afirmou que todos os impostos relativos às transações foram pagos.
Para o relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o depoimento de Meirelles revela que houve tráfico de influência junto ao Ministério da Saúde para a viabilização do contrato da Labogen. "A contradição apresentada por ele deixa claro que houve alguma coisa. Você adquirir uma empresa com R$ 54 milhões de passivo e essa empresa não voltar a ter a atividade que tinha anteriormente, simplesmente para ser uma empresa que tinha relações com o senhor Youseef e que ele usou as contas da Labogen para fazer evasão de divisas e depois essa empresa ter uma intermediação de contratos com o min da saúde e da Marinha deixa claro o tráfico de influência. Falta agora confirmar quem fez esse tráfico, quem fez essa intermediação via Youssef para a Labogen ter essas vantagens aqui no governo federal", disse.
O outro sócio da empresa, Esdras Ferreira, também compareceu ao Conselho mas não respondeu a nenhum questionamento. Ele apenas disse não conhecer Vargas. "Senti que os dois estavam instruídos a defender o deputado. Eles foram treinados para isso", disse Delgado.
Na semana que vem, o Conselho ouvirá as testemunhas de defesa indicadas por Vargas. Os advogados do deputado voltaram a reclamar hoje que não tiveram acesso às informações repassadas ao conselho pelo STF (Supremo Tribunal Federal) do inquérito que tramita na Corte. Eles ainda estudam se irão questionar o processo na Justiça.
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