Uma vez vi uma senhora falando que não se importaria tanto de ser pobre se as coisas feitas para pobres no Brasil não fossem tão bagunçadas. Ou seja: da porta para dentro de casa, mesmo com poucos tostões, ela dava jeito, dava conta. O duro era precisar de creche e não ter vaga; de ônibus e ter de andar esmagada; de posto de saúde e precisar entrar um uma fila desumana.
O Hospital de Clínicas da UFPR é um exemplo acabado de como o povo em geral é tratado pelas instituições públicas. Frequentemente há greve. Quando não há greve, não quer dizer, porém, que o hospital esteja funcionando. E cada vez mais, ao longo dos últimos governos, a coisa vem degringolando.
Eis como a saúde pública é tratada, na base do jeitinho. Primeiro, sem ter como fazer tudo do jeito certo, o pessoal apostou que podia fazer contratações ilegais pela Funpar, torcendo para que ninguém descobrisse a artimanha. Descobriram. Resolveram dar jeito e contratar mais gente? Não, substituíram o esquema por outro igualmente perverso, exigindo horas extras impossíveis dos funcionários. Até que descobriram esse esquema também, e mais uma vez o remendo foi rasgado.
Agora a situação chegou a um novo ponto baixo. Dezenas, centenas de leitos sendo fechados por falta de quem os faça funcionar. Por falta de doentes, infelizmente, não é. Sem atender os pacientes em suas cidades de origem, o sistema deixa que eles tenham de viajar distâncias infinitas em ambulâncias de prefeitos e deputados para chegar ao HC. Prefeitos e deputados, aliás, que são os únicos a lucrar com a situação.
Ao chegar aqui (se não for o dia da greve), esperam pacientemente até que lhes digam que falta agulha, que não há gaze ou que o médico não existe. Conheço gente que marcou cirurgia com meses de antecedência e que na hora não foi atendida justamente pela greve. Já ouviu a expressão sangria desatada? É isso. Mas sangria desatada em pobre é caso eletivo, decerto.
O descaso com o HC vem de décadas, e o governo atual mantém o mesmo tratamento. Se a crise é em aeroportos criam-se gabinetes emergenciais para resolver tudo o mais rápido possível. Nos HCs, a situação está assim há décadas e só o que se ouve são promessas de longo prazo. Betinho costumava dizer que quem tem fome tem pressa. Imagine quem está doente…
O governo federal adotou como slogan que “País rico é país sem pobreza”. Bela ideia: fazer com que a renda não só exista como seja distribuída. Já que não será nosso caso, como já ficou demonstrado, custava pelo menos atender bem os que não têm como pagar o particular? País remediado é país em que os mais pobres, pelo menos, têm onde ser atendidos.
Do que adianta trazer médicos de fora, se falta estrutura nos hospitais gerenciados pelo governo de Dona Dilma.
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