domingo, 24 de agosto de 2014

DOCUMENTO PODE PROVAR PAGAMENTO DE R$ 6 MILHÕES A EMPRESÁRIO QUE CHANTAGEAVA LULA, CONFORME MARCOS VALÉRIO HAVIA DENUNCIADO

OPOSIÇÃO QUER RAZÕES PARA CONTRATO EM ESCRITÓRIO DE YOUSSEF

Doleiro Alberto Yousseff, preso na Operação Lava Jato, suspeito de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
Contrato de empréstimo junto ao operador do mensalão foi encontrado com contadora de Youssef. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Brasília - A oposição vai convocar o empresário do ABC paulista Ronan Maria Pinto e os sócios da Remar Agenciamento e Assessoria para que expliquem na CPI da Petrobras por que um contrato de empréstimo entre eles e o operador do mensalão, Marcos Valério, estava no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef, investigado pela comissão. A existência do documento foi revelada pelo Estado na edição deste sábado.
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), afirmou ao Estado que a contadora de Youssef, Meire Poza, também será questionada pela CPI sobre o contrato encontrado em seu escritório. O requerimento de convocação da contadora deve ser votado na próxima reunião da CPI. Youssef está preso, acusado de comandar um esquema de corrupção envolvendo contratos com a Petrobras. O documento revelado pelo Estado é o primeiro elo entre o esquema do doleiro e o operador do mensalão do PT.
“Com a delação premiada do Paulo Roberto Costa ex-diretor da Petrobrás envolvido no esquema de Youssef e com essa revelação do elo entre Valério, Ronan e Youssef, vamos conseguir desmontar o aparelhamento do Estado feito pelo PT. A revelação do contrato entre Valério e Ronan é uma prova de que o mensalão não foi totalmente apurado. E muita coisa do mensalão começou em Santo André”, disse Bueno. O mensalão consistiu na compra de apoio político para o governo Lula por dirigentes do partido, condenados pelo Supremo Tribunal Federal pelo esquema.
O contrato apreendido pela PF no escritório da contadora de Youssef, conforme revelou o Estado, é de um empréstimo de R$ 6 milhões entre a 2 S Participações LTDA, empresa de Marcos Valério, e a Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. O documento é assinado por Valério e a Remar Agenciamento e Assessoria. No último parágrafo do contrato, contudo, está escrito que a empresa de Ronan é a mutuária do empréstimo.
Em depoimento ao Ministério Público no ano passado, revelado pelo Estado, Valério afirmou que dirigentes do PT pediram a ele R$ 6 milhões que seriam para o empresário Ronan Maria Pinto. O dinheiro serviria, segundo Marcos Valério, para que o empresário parasse de chantagear o ex-presidente Lula, o então chefe de gabinete pessoal de Lula, Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral da presidente Dilma Rousseff, e o ex-ministro José Dirceu. Por trás das ameaças estaria a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), executado em janeiro de 2002. Sob suspeita de que foi um crime político, o caso foi encerrado pela polícia de São Paulo como crime comum.
O nome da Expresso Nova Santo André, da qual Ronan Maria é sócio, aparece apenas no último parágrafo do contrato assinado por Marcos Valério e por um representante da Remar Agenciamento e Assessoria. No documento, contudo, esta claro que a empresa de Ronan é “mutuária” do acordo de empréstimo. A Remar está em nome de Oswaldo Rodrigues Vieira Filho e Salua Sacca Vieira. Ela afirmou ao Estado que seu nome foi colocado como sócia da empresa pelo ex-marido, Oswaldo, sem seu consentimento. “Meu nome estava aí de gaiato, de bobeira. Não trabalhava com ele, não sei o que essa empresa faz”, afirmou Salua. Ronan nega ter feito contrato com Valério.
Procurado por meio do Instituto Lula, o ex-presidente Lula afirmou que não se manifestaria. A assessoria de imprensa do ministro Gilberto Carvalho não se manifestou até a publicação deste texto.
Ronan Maria Pinto confirmou, por meio de sua assessoria, que tomou empréstimo com a Remar “para o giro de suas atividades empresariais”, mas nega que tenha obtido crédito da empresa de Marcos Valério. “Ronan Maria Pinto não tomou qualquer empréstimo de nenhuma empresa pertencente ao sr. Marcos Valério. Obteve crédito na Remar, para o giro de suas atividades empresariais”, afirmou a assessoria do empresário do ABC. Na resposta ao Estado, o empresário também afirmou que “não conheceu o senhor Marcos Valério, exceto pelo noticiário jornalístico”.
Ainda por meio da assessoria de imprensa, Ronan afirmou ao Estado que já “desmentiu” declaração de Valério ao Ministério Público de que a cúpula do PT lhe pediu R$ 6 milhões para comprar o silêncio do empresário que estaria chantageando o partido com revelações sobre a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, que foi assassinado. “A declaração do sr. Marcos Valério já foi publicamente desmentida. Ronan jamais conversou com ele, não o conhece pessoalmente, e não lhe fez, portanto, qualquer tipo de solicitação.”
Que chantagem?
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse neste sábado que “nunca tomou conhecimento de nenhuma ameaça ou chantagem” feita pelo empresário Ronan Filho.
Conforme revelou neste sábado (23) o jornal O Estado de S.Paulo, a Polícia Federal apreendeu no escritório da contadora do doleiro Alberto Youssef um contrato de empréstimo no valor de R$ 6 milhões, entre o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado no esquema do mensalão, e uma empresa de Ronan Maria Pinto.
Em depoimento prestado ao Ministério Público, em dezembro de 2012, Valério disse que dirigentes do PT lhe pediram R$ 6 milhões para serem destinados a Ronan. O dinheiro, segundo Valério, serviria para que o empresário deixasse de chantagear o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então chefe de gabinete pessoal de Lula, Gilberto Carvalho, e o ministro-chefe da Casa Civil na época, José Dirceu.
A assessoria de Carvalho informou que o ministro “nunca tomou conhecimento de nenhuma ameaça ou chantagem feita pelo senhor Ronan Pinto e muito menos tem informação a respeito da transação citada na matéria”. (Agência Estado)

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