Os brasileiros, esses crédulos, achavam
que o governo popular parasitário do PT jamais alcançaria os padrões de cara de
pau do chavismo. Quando o governo venezuelano explicou que estava faltando
papel higiênico no país porque o povo estava comendo mais, os brasileiros
pensaram: não, a esse nível de ofensa à inteligência nacional os petistas não
vão chegar. Mas o Brasil subestimou a capacidade de empulhação do consórcio
Lula-Dilma. E o fenômeno dos rolezinhos veio mostrar que o céu é o limite para
a demagogia dos oprimidos profissionais.
A parte não anestesiada do Brasil está
brincando de achar que o populismo vampiresco do PT não faz tão mal assim. E
dessa forma permite que a presidente da República passe o ano inteiro
convocando cadeia obrigatória de rádio e TV. Como no mais tosco chavismo, Dilma
governa lendo teleprompter. Fala diretamente ao povo, recitando os contos de
fadas que o Estado-Maior do marketing petista redige para ela. Propaganda
populista na veia, e gratuita, sem precisar incomodar Marcos Valério nenhum
para pagar a conta.
Só mesmo numa república de bananas
inteiramente subjugada é possível um escárnio desses. O recurso dos
pronunciamentos oficiais do chefe da nação existe para situações especiais, nas
quais haja uma comunicação de Estado de alta relevância (ou urgência) a fazer.
Dilma aparece na televisão até para se despedir do ano velho e saudar o ano
novo – ou melhor, usa esse pretexto para desovar as verdades de laboratório de
seus tutores. Mas agora, com a epidemia dos rolezinhos, o canal oficial da
demagogia está ligado 24 horas.
Eles não se importam de proclamar na
telinha que a economia está indo de vento em popa, com os números da inflação
de 2013 estourando a previsão e gargalhando por trás da TV. Mas a carona nos
rolezinhos é muito mais simples. Basta escalar meia dúzia de plantonistas da
bondade para dizer que as minorias têm direito à inclusão no mundo capitalista
– e correr para o abraço. Não se pode esquecer que o esquema petista vive das
fábulas dos coitados. Delúbio Soares, hoje condenado e preso por corrupção,
disse que o mensalão era “uma conspiração da direita contra o governo popular”.
Shoppings
fechados em São Paulo e no Rio por causa dos rolezinhos são a apoteose da
igualdade (na versão dos companheiros): todos igualmente privados do lazer
O rolezinho é um ato de justiça social,
assim como o papel higiênico acabou porque os venezuelanos comeram muito. E a
desenvoltura dos hipócritas do governo popular no caso das invasões de shoppings
está blindada, porque a burguesia covarde e culpada é presa fácil para o
sofisma politicamente correto. Os comerciantes dos shoppings, lesados pela
queda do consumo e até por furtos dos jovens justiceiros sociais, estão falando
fininho. Estão sendo aviltados por uma brutalidade em pele de cordeiro, por uma
arruaça fantasiada de expressão democrática, e têm medo de fazer cumprir a lei.
A ministra dos Direitos Humanos, como
sempre, apareceu como destaque no desfile da demagogia petista. Maria do Rosário
defendeu os rolezinhos nos shoppings e “o direito de ir e vir dessa juventude”.
A ministra está convidada a passear num
shopping onde esteja acontecendo o ir e vir de 3 mil integrantes dessa
juventude. Para provar que suas convicções não são oportunismo ideológico,
Maria do Rosário deverá marcar sua próxima sessão de cinema ou seu próximo
lanche com a família num shopping center invadido por milhares de
revolucionários do Facebook, protegidos seus. Se precisar trocar as lentes de
seus óculos, Maria do Rosário está convidada a se dirigir à ótica num shopping
que esteja socialmente ocupado por um rolezinho.
Se a multidão não permitir que a
ministra chegue até a ótica, ou se a ótica estiver fechada por causa do risco
de assalto, depredação ou pela falta de clientes, a ministra deverá voltar para
casa com as lentes velhas mesmo. E feliz da vida, por não ter de enxergar seu
próprio cinismo socialista.
Shoppings fechados em São Paulo e no Rio
por causa dos rolezinhos são a apoteose da igualdade (na versão dos companheiros):
todos igualmente privados do lazer, todos juntos impedidos de consumir cultura,
bens e serviços num espaço destinado a isso. É a maravilhosa utopia do
nivelamento por baixo. O jeito será importar shoppings cubanos – que vêm sem
nada dentro, portanto são perfeitos para rolezinhos.
Guilherme Fiuza é colunista da revista "Época" e do jornal "O Globo".
É formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio). É autor de "Meu nome não é Johnny" (Record, 2004),
"3.000 dias no bunker" (Record, 2006), "Amazônia, 20º andar" (Record,
2008), “Bussunda - A vida do Casseta” (Objetiva, 2010) e "Giane — Vida,
arte e luta" (Sextante, 2012)
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