Do JusBrasil:
Patrimonialismo e aparelhamento do poder público (mais de 600 mil cargos comissionados)
por Luiz Flávio Gomes
Patrimonialismo e aparelhamento do poder público (mais de 600 mil cargos comissionados)
por Luiz Flávio Gomes
Estado cleptocrata não é apenas o reconhecidamente governado por corruptos,
senão também o governado ou cogovernado por aqueles que buscam extrair
da coisa pública vantagens pessoais ou partidárias decorrentes do patrimonialismo,
que significa o estatismo abusivo, a confusão entre o público e o
privado, o uso do patrimônio público como se fosse patrimônio privado, a
troca de favores (favorecimentismo), o favorecimento de setores da
economia, o empréstimo de dinheiro público a apaniguados, o empreguismo
(sobretudo dos cabos eleitorais e apoiadores), o corporativismo, o
clientelismo, o fisiologismo, o nepotismo, o parentismo, o amiguismo, o
filhotismo, o “onguismo” (apoios indecorosos a algunas ONGs que fazem
parte do aparelhamento do Estado), o emendismo (emendas de distribuição
de verbas, reservando-se parte do amealhado para o autor da emenda), o
novo peleguismo (dos sindicatos), a cooptação midiática (servidão ou
clientelismo midiático), o aparelhamentismo do Estado, o
asistencialismo, o bolsismo educacional fundado em interesses eleitorais
etc.
Diariamente são incontáveis os exemplos de
todos esses malefícios, particularmente os chamados de empreguismo ou
filhotismo ou nepotismo ou parentismo ou amiguismo: o prefeito de SP
(Haddad-PT), por exemplo, nomeou três amigos do seu filho Frederico para
ocuparem o cargo comissionado de assessor técnico no seu gabinete
(salário de R$ 3,3); é a famigerada “cota do Fred”! Falou-se em
nepotismo indireto (na verdade, trata-se do empreguismo, motivado, no
caso, pelo amiguismo). Mais um uso indevido da coisa pública como se
fosse patrimônio particular. O fenômeno pertence à categoria mais ampla
do patrimonialismo, que é um dos nossos vícios originais. A
governadora Suely Campos (PP-RR) nomeou 19 parentes (parentismo,
nepotismo e filhotismo). Também o nepotismo trocado virou moda no
território nacional (Pezão com Eduardo Paes etc.). Uso do dinheiro
público de uma forma tão aberrante quanto qualquer outra forma de
roubar. E tudo, “normalmente”, impune, considerado apenas como parte da
cultura (do sistema).
No Estado cleptocrata brasileiro o
patrimonialismo se revela mais agudamente imoral no excesso de cargos de
confiança (nomeação política para cargos comissionados), que dá margem
para pressões políticas (fisiologismo), ineficiência administrativa e
corrupção, com resultados extremamente maléficos para a sociedade. No
nível federal são 22.700 cargos, preenchidos de acordo com escolhas
acima de tudo políticas (não técnicas). Os Estados Unidos (diz a
reportagem da Época), com estrutura de governo bem maior que a
brasileira, têm apenas 8.000. Nos governos estaduais são 115 mil
indicados pelos governadores e seus aliados; nos municípios é meio
milhão de indicados por critérios que normalmente não aferem a
meritocracia. Vejamos o infográfico da Revista Época: aqui.
Esses cargos servem como moeda política para
presidentes, governadores, prefeitos, vereadores, deputados e senadores.
São vagas destinadas ao fisiologismo (divisão do Estado para governar),
às alianças partidárias renegociadas a cada eleição (retribuição a
financiadores, a candidatos não eleitos, a cabos-eleitorais); essa alta
rotatividade prejudica, evidentemente, a eficiência da governança.
Quanto maior o número de indicações políticas num órgão federal, menor a
capacidade de o servidor fazer seu trabalho. A conclusão (recordada
pela revista Época) é de um estudo de 2013 com dados de 325 mil
servidores brasileiros, liderado pela pesquisadora Katherine Bersch, da
Universidade do Texas, nos EUA. “O efeito sobre a administração é
devastador”, afirma Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG
Transparência Brasil, que propõe limitar o número de cargos
comissionados; em 2011, a pesquisadora Maria Celina D’Araújo, da PUC do
Rio de Janeiro, constatou que um quarto dos funcionários federais nos
cargos comissionados federais de alto escalão eram filiados a algum
partido. Desses,
80% eram petistas (para sustentação do partido no poder uma grande
parte dos nomeados pagariam “dizimo”, um “dizimo dialético”). Vejamos:
aqui.
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Não vejo nenhum ato de nepotismo nas ações do Pezão, e sim ele reconhecendo bons profissionais. Apenas isso. Sem importar a família.
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