Publicado no Blog do Noblat
RICARDO NOBLAT
RICARDO NOBLAT
Afinal, a presidente Dilma Rousseff trouxe ou
não para o Brasil o que comprou recentemente em Montevidéu? A saber:
três potes de doce de leite, um requeijão e um queijo cremoso.
Surpreso(a) com a pergunta quando em Brasília só se fala da lista dos
suspeitos de envolvimento com a corrupção na Petrobras? Pode não
parecer, mas uma coisa tem a ver com a outra. Como espero demonstrar
daqui para frente.
Quantas vezes você não leu afirmações de
Dilma reiterando seu compromisso com a verdade e a transparência?
Quantas vezes não a ouviu repetir as expressões gastas “não ficará pedra
sobre pedra” e “doa em quem doer”? Sim, ela quer que acreditemos em sua
honestidade pessoal. E não só pessoal: na honestidade que decorre do
modo como exerce a função de presidente.
Mas como acreditar no que ela quer se é
incapaz de oferecer resposta a uma pergunta tão simples como a que fez a
repórter Janaína Figueiredo, de O Globo? O brasileiro não pode trazer
do exterior derivados de leite. É proibido por uma portaria do
Ministério da Agricultura. Janaína quis saber apenas se a presidente
cumpriu a lei. A resposta foi o silêncio.
Onde ficou o compromisso de Dilma com a
verdade e a transparência? Por que tomarei como verdade a desculpa dada
por ela para ter aprovado a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados
Unidos, contra parecer de uma consultoria internacional contratada pela
Petrobras? O negócio resultou em prejuízo para a empresa estimado em
quase dois bilhões de dólares.
Na época, Dilma era chefe da Casa Civil do
governo Lula, o segundo lugar mais importante da República. E presidente
do Conselho de Administração da Petrobras. Antes havia sido ministra
das Minas e Energia. Nada se vende ou se compra na Petrobras sem
autorização do Conselho de Administração. Dilma desculpou-se alegando
que decidiu pela compra sem dispor de todas as informações a respeito.
Ora, ao jogar nas costas de um ex-diretor da
Petrobras a culpa por ter decidido errado, Dilma acabou confessando um
crime de responsabilidade. Isso poderia lhe custar o mandato neste país
tropical, de memória fraca, que já assistiu à queda de um presidente por
causa da compra de um Fiat Elba com sobras de campanha (Bom dia,
Collor, aliado de Dilma, enrascado com a roubalheira na Petrobras!).
Sabe o que distingue o escândalo do mensalão
no primeiro governo Lula do escândalo da Petrobras que começou no
segundo governo dele? O volume do dinheiro desviado. O mensalão foi obra
de “uma sofisticada organização criminosa”. O escândalo da Petrobras,
de uma “complexa organização criminosa”. Assim disseram os
procuradores-gerais Antônio Fernando Barros e Rodrigo Janot.
Ao denunciar os mensaleiros, Antônio Fernando
apontou o ex-ministro José Dirceu como cabeça da gangue. Ao apresentar
sua lista de pessoas a serem investigadas no caso do assalto à
Petrobras, Janot não apontou ninguém. Lula escapou do Mensalão.1. Como
se tudo aquilo pudesse ter acontecido à revelia dele. Cabe a Janot mais
adiante encontrar alguém para ser no Mensalão. 2 o José Dirceu da Dilma.
No Mensalão.1, Lula contou com a proteção dos
principais líderes do Congresso. No Mensalão.2, além de implicados no
escândalo, os principais líderes do Congresso estão furiosos com Dilma.
Sentem-se abandonados por ela. Dilma encabeça a lista de Janot porque
ninguém mais do que ela tem a perder com a crise política que se soma à
crise econômica e que pode resultar numa crise institucional
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