RICARDO NOBLAT
O que leva Dilma, aos 67 anos de idade, a ser
tão rude com seus subordinados? A pedido de quem me contou, não
revelarei a fonte da história que segue. No ano passado, ao ouvir do
presidente de uma entidade financeira estatal algo que a contrariou,
Dilma elevou o tom da voz e disse:
— Cale a boca. Cale a boca agora. Você tem 50 milhões de votos? Eu tenho. Quando você tiver poderá ocupar o meu lugar.
Dilma goza da fama de mal educada. Lula, da
fama de amoroso. Não é bem assim. Lula é tão grosseiro quanto ela. Tão
arrogante quanto. Eleito presidente pela primeira vez, reunido em um
hotel de São Paulo com os futuros ministros José Dirceu, Gilberto
Carvalho e Luís Gushiken, entre outros, Lula os advertiu:
— Só quem teve voto aqui fui eu e José Alencar, meu vice. Não se esqueçam disso.
Em meados de junho de 2011, quando Dilma
sequer completara seis meses como presidente da República, ouvi de
Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, um diagnóstico que se
revelou certeiro. “Dilma tem ideias, cultura política. Mas seu
temperamento é seu principal problema”, disse ele. “Outro problema: a
falta de experiência. E mais um: tem horror à pequena política. Horror”.
Na época, Eduardo era aliado de Dilma. Nem por
isso deixava de enxergar seus defeitos. “Dilma montou um governo onde a
maioria dos ministros é fraca”, observou. “Todos morrem de medo dela.
No governo de Lula, não. Ministro era ministro. Agora, é serviçal
obediente e temeroso. Lula não pode fingir que nada tem a ver com isso.
Afinal, foi ele que inventou Dilma”.
Lula não perdoa Dilma por ela não ter cedido a
vez a ele como candidato no ano passado. Mas não é por isso que opera
para enfraquecê-la sempre que pode. Procede assim por defeito de
caráter. Com Dilma e com qualquer um que possa causar-lhe embaraço. Se
precisar, Lula deixa os amigos pelo meio do caminho. Como deixou José
Dirceu, por exemplo. E Antonio Palocci.
Pobre de Dilma quando Lula se oferece para
ajudá-la. Na última quarta-feira, ele jantou com senadores do PT. Ouviu
críticas a Dilma e a criticou. No dia seguinte, tomou café da manhã com
senadores do PMDB. O pau cantou na cabeça de Dilma. Tudo o que se disse
nos dois encontros acabou se tornando público. Em momento de raro
isolamento, Dilma precisa de muitas coisas, menos de briga.
Pois foi com o discurso belicoso de sempre, do
nós contra eles, do PT e dos pobres contra as elites, que Lula
participou de um ato no Rio em favor da Petrobras. Sim, da Petrobras
degradada nos últimos 12 anos pelo PT e seus aliados. Pediu que seus
colegas de partido defendessem a empresa e se defendessem da acusação de
que a saquearam. E por fim acenou com a possibilidade de chamar “o
exército” de João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, para
sair às ruas e enfrentar os desafetos do PT e do governo.
Washington Quaquá, presidente do PT do Rio de
Janeiro e prefeito de Maricá, atendeu de imediato ao apelo de Lula.
Escreveu em sua página no Facebook:
— Contra o fascismo, a porrada. Não
podemos engolir esses fascistas burguesinhos de merda. Está na hora de
responder a esses filhos da puta que roubam e querem achincalhar o
partido que melhorou a vida de milhões de brasileiros. Agrediu, damos
porrada. É o exemplo que vem de cima!
Para o bem ou para o mal, este país carregará
na sua história a marca indelével de um ex-retirante nordestino
miserável, agora um milionário lobista de empreiteiras, que disputou
cinco eleições presidenciais, ganhou duas vezes e duas vezes elegeu uma
sem voto, sem carisma e sem preparo para governar. Lula já foi uma
estrela que brilhava sem medo de ser feliz. Foi também a esperança que
venceu o medo. Está se tornando uma forte ameaça à democracia.
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