por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo
Advogado de Youssef diz que não vê ‘resquício de corrupção’ em Dilma
O escritório do advogado Antonio Figueiredo Basto, 50, fica em um sobrado de três quartos no bairro Mercês, em Curitiba (PR). A recepção tem dois sofás de couro, rasgados e com a espuma aparecendo em alguns lugares. Na mesa lateral estão as revistas “Época” e “Veja”, que diz: “A Operação Lava Jato e o PT”. Outra publicação, “Bom Gourmet”, ensina a fazer hambúrguer.*
Basto chama a colunista, recebida por ele há alguns dias, para a sala de reuniões. E começa a falar de seu cliente mais famoso, “o Beto”, como ele chama o doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato preso há um ano por lavar dinheiro de corrupção na Petrobras.O advogado
“Eu já libertei ele de umas cinco prisões”, diz (Youssef já foi detido nove vezes). “O primeiro caso que tive com o Beto foi o da Prefeitura de Londrina [de lavagem de dinheiro]. Outro foi o da Copel [de irregularidades na empresa de energia do Paraná], um caso de enorme repercussão. Envolveu toda a Assembleia Legislativa do Paraná, secretários de Estado [para quem Youssef repassava propina]. Eu estava em casa e minha ex-esposa diz: ‘Olha lá teu cliente no ‘Fantástico”. Cinco minutos depois, ele liga. E eu: ‘Corre para o meu escritório’.” Youssef ficou só dois dias preso.
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Nos anos 2000, nova encrenca: “Beto” se envolveu no maior escândalo do país sobre remessas ilegais ao exterior, o do Banestado. Respondeu a “40 inquéritos e dez ações penais”. Fez delação premiada e escapou da prisão. “Foi o primeiro grande acordo de delação. O modelo que tá aí, fui eu que desenhei. Autorizei depois o Ministério Público a usar. Até lecionei para eles.”
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Na Lava Jato, Youssef delatou de novo, em troca de alívio no castigo. Vai ficar preso por três anos.
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“O Beto se criou desde garoto vendendo coxinha no aeroporto de Londrina. Ele tinha sete anos”, relata o advogado. “Com 14, já pilotava avião e trazia contrabando de outros países para o Brasil. Ele é um baita comerciante, um cara simpaticíssimo, conversador. Não foge do pau. Ele vai buscar.”
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Quando fala da Lava Jato, Basto atira para cima. “Essa é uma organização criminosa ligada a um projeto de poder. Há alguém por trás disso tudo.” Desenha um organograma numa folha de papel. Coloca “Beto” na parte mais baixa da hierarquia. “Ele era um mero operador.”
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Escreve, acima do doleiro, os nomes de empreiteiros, diretores da Petrobras e partidos que davam e recebiam dinheiro. No topo, desenha um quadrado vazio. “Alguém aqui garantiu isso tudo. Se eu cortar o homem que tá aqui em cima, ou a mulher, se eu cortar essa cabeça, o resto embaixo some.”
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Em depoimento ao Ministério Público, Youssef disse que “Lula e Dilma sabiam de tudo”. É a isso que o advogado se refere? “O Beto vai explicar o que quis dizer com isso no depoimento que vai dar à Justiça no dia 30.” Basto passa então a defender a presidente Dilma Rousseff. “A Dilma, não. O Beto sempre diz que ela não está envolvida com corrupção, isenta a Dilma totalmente.”
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E segue: “Eu te diria quase que com certeza absoluta: não vejo resquício de corrupção nessa mulher. Ela mantém uma dignidade pessoal e não vendeu a honra. Digo isso como o primeiro advogado que chegou à Lava Jato”.
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E Lula? Basto desconversa, muda de assunto. Depois de um tempo, discorre sobre “a cegueira deliberada”.
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