terça-feira, 4 de novembro de 2014

Tesoureiro do PT continua no conselho de Itaipu


Conselheiros da Itaipu
Do Josias de Souza

Acusado em plena campanha eleitoral de operar a prospecção de propinas em contratos da Petrobras, o tesoureiro do PT João Vaccari Neto insinuou que, para não constranger Dilma Rousseff, abdicaria do Conselho de Administração de Itaipu Binacional. Sobreveio o segundo turno da eleição presidencial. E nada. Na última sexta-feira (31), Vaccari mandara dizer que, finalmente, efetivara sua saída. Foi um desligamento de gogó.
Decorridos quatro dias, Vaccari continua plugado no organograma da estatal. Na madrugada desta terça-feira (4), seu nome ainda adornava o quadro de conselheiros exposto no site da companhia (veja na ilustração no alto). Com isso, o companheiro tornou-se uma oportunidade que a oposição aproveita.
Em artigo publicado no domingo (2), Fernando Henrique Cardoso criticou Dilma por fazer pose de “campeã da moralidade pública” depois de ter silenciado “diante da afirmação feita no processo sobre o petrolão de que o tesoureiro do PT, senhor Vaccari, era quem recolhia propinas para seu partido.”
O ex-presidente tucano lecionou: “Havendo suspeitas, vá lá que não se condene antes do julgamento, mas até prova do contrário deve-se afastar o indiciado, como fez Itamar Franco com um ministro e eu fiz com auxiliares, inocentados depois, no caso Sivam. Então por que manter o tesoureiro do PT no conselho de Itaipu?”
A cadeira de conselheiro em Itaipu é uma das sinecuras mais cobiçadas da República. Integram o colegiado doze pessoas. Reúnem-se a cada dois meses. E embolsam uma remuneração mensal na casa dos R$ 20 mil. Vaccari escalou o Éden em 2003, graças ao amigo Lula. Foi, por assim dizer, um prêmio de consolação.
No alvorecer do primeiro mandato de Lula, Vaccari era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e secretário de Finanças da CUT, o braço sindical do petismo. Na fase de composição do governo, o PT cogitou alçá-lo ao posto de presidente da Caixa Econômica Federal.
Barraram Vaccari dois obstáculos: o nariz torcido de Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, e a falta de diploma universitário. Os estatutos da Caixa exigem que o presidente tenha passagem pelos bancos de uma universidade. E Vaccari não preenchia esse quesito.
Para não deixar o companheiro ao relento, Lula abrigou-o em Itaipu. Então ministra de Minas e Energia, de cujo organograma pende a estatal, Dilma não se animou a imitar Palocci na resistência. E Vaccari frequenta o paraíso da remuneração alta com trabalho miúdo há quase 12 anos. Se as circunstâncias não o arrancarem do posto, como fizeram com Sérgio Machado na Transpetro, o mandato de Vaccari vai até 2016.
Desde maio, o tesoureiro petista desfruta nas reuniões bimestrais do conselho de Itaipu da companhia do ministro Aloízio Mercadante. É comum a prática de vitaminar os salários de ministros acomodando-os em conselhos de estatais. Chefe da Casa Civil de Dilma, ele ocupou a vaga de Roberto Amaral, cujo partido, o PSB, migrara para a oposição.

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