Um dia após as prisões de diversos executivos de empreiteiras suspeitas de participar do maior esquema de corrupção do Brasil, milhares de pessoas ocuparam as ruas de ao menos seis capitais para se manifestar contra o Governo federal e para pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Os protestos já tinham sido marcados antes da operação desta sexta-feira que prendeu 23 suspeitos, entre eles um ex-diretor da Petrobras, mas ganhou fôlego após a ação da Polícia Federal.
“Queria saudar e parabenizar o juiz Fernando Moro, da Operação Lava Jato. O senhor está fazendo um excelente trabalho ao limpar o nosso Brasil dessa corja”, disse no carro de som um dos organizadores do movimento em São Paulo, onde cerca de 10.000 pessoas protestaram por quase três horas. O número é mais que o triplo do que os que protestaram no início de novembro.
Ao mesmo tempo em que esse grupo cresceu, também ficou mais diverso e radical na capital paulista. Diverso porque havia punks, militares, hare krishnas, membros de grupos LGBT e skin heads caminhando ao lado de pessoas que não se identificam com movimento algum. Radical porque bastava alguém estender uma toalha vermelha na janela de um prédio para ouvir vaias, xingamentos e uma intensa gritaria com a sentença “vai para Cuba”. Além disso, outra prova da agressividade foi que, em um trajeto de quatro quilômetros (entre o Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, e a Praça da Sé, no centro) houve ao menos dois incidentes de agressão entre os manifestantes contrários à Dilma e algumas pessoas que se mostraram descontentes com o protesto.
A primeira agressão foi contra um advogado que levou uma paulada na cabeça enquanto tentava argumentar com um senhor sobre a razão de usar uma camiseta vermelha na qual Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e Karl Marx, entre outros comunistas, se confraternizavam com copos de cerveja nas mãos. “Eu estava voltando da academia para a minha casa pela avenida Paulista e comecei a ser agredido [verbalmente] pelos manifestantes. Quis explicar que o que havia na minha camiseta era uma brincadeira, mas parece que o vermelho, que é a cor da paixão, desperta o ódio em algumas pessoas”, afirmou Alexandre Simões de Melo, de 33 anos. Declarado apoiador do PT ele disse estar surpreso com a reação dos manifestantes.
“A nossa bandeira, jamais será vermelha”, diziam os manifestantes
O segundo momento de tensão ocorreu quando um grupo de mais ou menos dez pessoas fez sinal de negativo para os manifestantes enquanto eles gritavam “Fora PT” ou “A nossa bandeira, jamais será vermelha”. A polícia precisou intervir para que as agressões verbais não se tornassem físicas.
“Não vamos nos rebaixar a eles. Eles são violentos, nós não”, afirmou um dos organizadores. Na sequência vários manifestantes se viraram para a janela de um prédio em que uma moradora balançava um pano vermelho da janela do sexto andar e gritaram: “pula, pula, pula”.
Ao que tudo indica a tensão que tomou conta das eleições brasileiras está longe de terminar. Enquanto aquele advogado que foi agredido na Paulista conversava com o EL PAÍS, um manifestante, que não se identificou, passou por ele e aos gritos: “Nosso país é livre. Saia daqui, vagabundo. Vá para Cuba!”. Ao que ele deu de ombros e respondeu: “Se é livre…”
“Vai dizer que ela não sabia da roubalheira?”
Homem fantasiado de Batman em protesto no Rio. / Marcelo Sayão (EFE)
Além de São Paulo, as manifestações que pediram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) também ocorreram no dia da proclamação da República, em menor proporção, no Rio de Janeiro, Brasília, Campo Grande, Maceió e Porto Alegre. Apenas nessas duas últimas superou a casa do milhar.
Em algumas cidades, os manifestantes compararam a presidenta ao ex-presidente Fernando Collor, que foi tirado de poder após um escândalo de corrupção em 1992. “Por muito menos o Collor foi tirado da presidência”, declarou o empresário Augusto Borges, de 43 anos, e emendou: “Vai dizer que ela não sabia dessa roubalheira de 10 bilhões da Petrobras? Claro que sabia.”
Centenas de faixas seguiam nessa linha. “Dilma sabia de tudo”; “O PT roubou o Brasil” e; “S.O.S Brasil. Acabem com o Petrolão”. Em outros momentos, os manifestantes diziam que os trabalhadores não votam no PT: “Quem trabalha, não vota em ‘petralha’”.
Em São Paulo, um pequeno grupo chegou a pedir uma intervenção militar, mas essa reivindicação estava longe de ser uma unanimidade entre os manifestantes. “Não queremos a Dilma nem o PT, mas pedir que os militares voltem também já é um absurdo”, reclamou a artista plástica Maria Victoria, de 67 anos.
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