por Josias de Souza, no UOL
Às
voltas com o primeiro rombo em suas contas desde que o Plano Real deu
ao país uma moeda estável, o governo montou uma operação de guerra para
aprovar no Congresso o projeto que autoriza Dilma Rousseff a descumprir a
meta de economia nas despesas para pagamento das dívidas públicas. Fez
isso por uma razão singela: se a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
não for modificada, a presidente da República estará sujeita a ser
processada por crime de responsabilidade. Algo que, no limite, pode
custar-lhe o mandato que acaba de reconquistar nas urnas.
Editada sob Fernando Henrique Cardoso, a Lei de Responsabilidade Fiscal (número101/2000)
define em seu artigo 4º que um dos objetivos da LDO é a obtenção do
“equilíbrio entre receitas e despesas”. O parágrafo 1º desse mesmo
artigo anota: “Integrará o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias
anexo de metas fiscais, em que serão estabelecidas metas anuais, em
valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas,
resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o
exercício a que se referirem e para os dois seguintes.”
Na
hipótese de descumprimento da meta de superávit primário, nome técnico
da economia de gastos, a irresponsabilidade fiscal levaria Dilma a
flertar com a lei que define os crimes de responsabilidade (número 1.079/1950).
A encrenca está esboçada no capítulo VI dessa lei, que trata “dos
crimes contra a lei orçamentária”. No artigo 10º, estão enumerados os
“crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária”. No item 4 desse
artigo lê-se: “infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo
da lei orçamentária.” A pena máxima seria o impeachment. “O quadro é
muito delicado”, dizia na noite passada, em privado, o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves. “O governo precisa calçar as sandálias
da humildade.”
É
para evitar que a infração se torne patente que o governo pega em
lanças. A caminho da Austrália, onde participará da reunião dos países
do G 20, Dilma delegou ao vice Michel Temer, no exercício da
Presidência, a tarefa de coordenar as falanges governistas no Congresso.
Nesta terça-feira (11), Temer realizou umamaratona de
reuniões que começou pela manhã e se prolongou até o meio da noite. No
Congresso, a oposição se equipa para dificultar o que já não parece
fácil.
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