terça-feira, 11 de novembro de 2014

Livro do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia narra os bastidores da “diplomacia megalonanica” de Lula e de seu maior e mais humilhante fracasso


ALIANÇA PÍFIA — Lula e o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em Brasília, em 2009: unidos para espezinhar os EUA (Foto: Dida Sampaio/AE)
ALIANÇA PÍFIA — Lula e o presidente iraniano e projeto de genocida Mahmoud Ahmadinejad — pária internacional que o lulopetismo acolheu com tapete vermelho — em Brasília, em 2009: unidos para espezinhar os EUA (Foto: Dida Sampaio/AE)

A SOMBRA DO FRACASSO
Em Aposta em Teerã, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia revela que não foi por falta de aviso que o episódio mais humilhante da diplomacia lulista ocorreu

Resenha de Diogo Schelp publicada em edição impressa de VEJA

A política externa no governo de Luiz Inácio Lula da Silva ficou conhecida como “diplomacia megalonanica”. “Megalo” por suas pretensões de alterar o equilíbrio de poder entre países ricos e emergentes, de solucionar conflitos que se arrastam por décadas e de reivindicar para o Brasil uma liderança não apenas regional, mas global. “Nanica” porque, na prática, o soft power brasileiro, ou seja, o poder de influenciar nações sem o uso da ameaça militar, é insuficiente para atingir os objetivos grandiosos pretendidos pelo lulopetismo.
Em seu livro Aposta em Teerã (Objetiva; 152 páginas; 24,90 reais), que chega nesta semana às livrarias, Luiz Felipe Lampreia evita usar expressão tão irônica – e, por isso mesmo, tão eficiente em sintetizar a visão de mundo de Lula e de seus conselheiros internacionais. Sua análise do maior fracasso da diplomacia da era Lula, a tentativa de solucionar o impasse em torno do programa nuclear iraniano, em 2010, dá mais voltas, mas chega à mesma conclusão.
Escreve Lampreia: “O governo do presidente Lula sempre foi caracterizado por um forte desejo de protagonismo diplomático. No caso do Oriente Médio, demonstrou um excesso de voluntarismo, que se revelou gratuito e inútil. No caso do Irã, fez uma leitura por demais otimista do nosso papel internacional”. Eis uma descrição diplomática do que é ser megalonanico.
Lampreia chefiou o Itamaraty entre 1995 e 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, período que Celso Amorim, o chanceler de Lula, depois afirmou ter sido marcado por uma diplomacia tímida e de subordinação “aos ditames de outras potências”. Na verdade, era apenas uma política externa que não se subordinava a interesses partidários.
Com os contatos que ainda mantém no meio diplomático, Lampreia reuniu informações de bastidores que demonstram como o anseio pelo protagonismo impediu que Amorim e Lula percebessem que as negociações com o Irã, em parceria com a Turquia, eram uma armadilha.
Um pouco antes de desembarcar em Teerã, Lula esteve na Rússia, ocasião em que o presidente Dimitri Medvedev alertou o colega brasileiro em conversa reservada que “o jogo já estava jogado” e que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, já haviam concordado em impor novas sanções econômicas ao Irã. De nada adiantava, portanto, Lula arriscar a sua projeção externa em um acordo pífio com o Irã.
Depois, durante as duras negociações em Teerã, em diversos momentos os representantes iranianos perguntavam aos brasileiros e aos turcos se os americanos aprovavam o que estava sendo discutido ali. Afinal, sem o consentimento dos Estados Unidos, a suspensão das sanções, objetivo maior dos iranianos, jamais poderia ocorrer.
Amorim garantia-lhes, enfaticamente, que sim.
Ele estava se baseando em uma carta que o presidente Barack Obama escreveu para Lula, discorrendo sobre os planos do brasileiro de negociar com o Irã. Lampreia demonstra de maneira muito didática que Amorim fez uma interpretação equivocada da carta de Obama.
Em 17 de maio de 2010, divulgou-se a Declaração de Teerã, pela qual os aiatolás entregariam 1 200 quilos de urânio enriquecido para ser guardado na Turquia. No dia seguinte, Amorim recebeu uma ligação de Hillary Clinton, secretária de Estado americana, desautorizando o acordo.
Lula saiu humilhado do episódio. Foi a última grande aventura diplomática de seu governo. A sombra do fracasso em Teerã acompanha a diplomacia petista desde então.

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