Dúvida é se o governo vai mandar o IBGE alterar os números outra vez
Convivendo com uma taxa de desemprego de 33,9%, os cerca de 10 milhões de brasileiros que respondem por apenas 5% do total da renda nacional viram seus rendimentos encolherem em 10,2% de 2012 para 2013, já descontada a inflação do período.
Os cálculos estão em um estudo da empresa OPE Sociais e do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), já atualizado após o IBGE acusar um suposto erro na sexta-feira, dia seguinte à divulgação da Pnad 2013. A dúvida, mencionada com ironia por pesquisadores, é se o governo vai ordenar um novo recuo do IBGE na divulgação desse novo levantamento.
O estudo usa nos cálculos o rendimento domiciliar per capita de todas as fontes de ganhos , mas o problema está no rendimento do trabalho. A conclusão resulta da comparação entre a variação dos ganhos com atividades econômicas (trabalho) e os rendimentos de outras fontes (pensões e aposentadorias, doações, programas de transferência de renda, etc.).
Quando se olha para os 5% mais pobres, a renda domiciliar per capita do trabalho afundou 20,7%, de 2012 para 2013, já descontanda a inflação. Os ganhos com outras fontes também caíram, mas bem menos: 2,9%. Entre os que declaram ao IBGE ter alguma forma de emprego, ainda que informal, a queda foi de 11,5%, para apenas R$ 83,40 por mês.
“A economia está desacelerando e isso impacta a renda e o emprego”, disse a economista Andrezza Rosalém, autora do estudo, ao lado do estatístico Samuel Franco.
Segundo os pesquisadores, os extremamente pobres são a parcela mais vulnerável da população e têm o acesso mais precário ao mercado de trabalho. A altíssima taxa de desemprego nessa parcela da população (33,9%) fica bem acima da década passada, quando o País crescia distribuindo renda, mas mesmo a menor taxa nos últimos dez anos (23,3% em 2006) é alta.
Em geral, os 5% mais pobres são pessoas que trabalham no mercado informal, vivem de trabalhos temporários e de baixa remuneração, como bicos, biscates ou o trabalho doméstico sem carteira. “No mercado informal, é mais difícil conseguir reajustes nos pagamentos”, lembrou Franco.
Para o estatístico, a queda na renda proveniente de pensões e bolsas de transferência de renda é um mistério que precisa ser melhor investigado. Uma das hipóteses é que está cada vez mais difícil levar essas políticas de transferência aos extremamente pobres: em 2003, eles eram 31 milhões de pessoas, ou 17,5% da população. Hoje, são 11,809 milhões de pessoas, ou 6% da população, mas ainda assim um número elevado, equivalente ao de habitantes na capital paulista.
Vários economistas já avaliaram que a revisão dos dados da Pnad 2013 pelo IBGE manteve, em termos gerais, o retrato mostrado pela pesquisa na divulgação inicial. O quadro da concentração de renda tende à estabilidade. Se antes da divulgação do erro registrava estabilidade com leve alta, agora é estabilidade com leve baixa.
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