Coluna Opinião
O
médico Milton Pires enviou à coluna, nesta terça-feira a carta abaixo
reproduzida. É um relato sucinto das perseguições movidas pela direção
do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, contra um
profissional que pensar com independência — e dizer sem medo o que
pensa. A mais recente abjeção foi consumada neste 22 de setembro:
baseados em acusações difusas, inconsistentes ou mesquinhas, formuladas
por testemunhas anônimas, os comandantes da instituição comunicaram a
Milton Pires a decisão de suspendê-lo por 60 dias. Confiram:
O SILÊNCIO DE TODOS NÓS
Milton Pires
Meus amigos:
Trabalhando desde junho de 2010 na UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição em Porto Alegre, minha contínua luta contra as barbaridades feitas contra a saúde pública no Brasil
são do conhecimento de todos. No início de 2013, Ricardo Setti publicou
em seu blog no site de VEJA o artigo com o título “Santa Maria e a
Guerra do Vietnam”, uma séria advertência sobre a vinda dos médicos
cubanos. Depois de “Carta à Presidente Dilma” e de outros textos
publicados tanto no meu blog “Ataque Aberto” quanto no grupo de Facebook
“Inglourious Doctor”, comecei a pagar, pessoalmente e
profissionalmente, o preço das minhas opiniões políticas.
Assassinar reputações de inimigos não é uma prática nova da
esquerda brasileira. O doutor Romeu Tuma Júnior provou isso em seu
livro. Trabalhando num grupo hospitalar que atende 100% dos pacientes
pelo SUS, no qual entrei por concurso público e que é controlado por
gente do PC do B, não é necessário ser um teórico da conspiração para
compreender e admitir o que acontece quem se opõe ao modelo de gestão de
saúde no Brasil. Antiga, mas eficiente, a tática é sempre a mesma – mau
desempenho nas avaliações funcionais e relatos de conflitos e
dificuldade de relacionamento no local de trabalho funcionam como
estopim dos processos administrativos em que se pretende “limpar” o
serviço público dos opositores.
Neste 22 de setembro, chegando ao Hospital Conceição para
trabalhar na UTI, fui notificado de que meu ponto estava “suspenso”.
Encaminhado ao setor de RH, fui informado de que eu mesmo, como médico,
estou suspenso do hospital por 60 dias, sem perda de remuneração.
Argumenta a instituição que isso visa não prejudicar o processo
administrativo disciplinar (PAD número 51/14, que tem como objetivo a
minha exoneração. Desconheço os termos de acusação. Não sei ao que
respondo e não tive, até agora, nenhuma chance de defesa.
Em apelação administrativa de avaliação funcional prévia
considerada muito insuficiente, testemunhas identificadas como
“trabalhador da saúde 1,2,3,4..etc..” me acusam de “não examinar os
pacientes, não lavar as mãos, de conflitos com familiares de pacientes
da UTI , de jogar equipamentos no chão e não usar equipamentos de
proteção individual”. Não sei, oficialmente, o nome de NENHUMA das
pessoas que disseram isso naquele processo. Não lhes foi exigida prova
alguma para que declarações que acabaram com a minha vida funcional se
transformassem em VERDADES corroboradas por meus chefes.
O que está acontecendo comigo não é exceção; é a regra aplicada
aos médicos brasileiros que decidem contestar a maneira com que essa
gente conduz a saúde pública. Minhas chances no processo administrativo,
do qual sequer tenho cópia, não são muitas. Acredito que haja alguma
alternativa na Justiça comum. Neste momento, resta-me apelar àquilo que
essa gente mais teme: a publicidade, a divulgação em massa pela imprensa
do que se pretende fazer em silêncio. Eles são especialistas em
assassinar reputações, apoiados no total aparelhamento do serviço
público e terror infundido nos seus subordinados. Os efeitos são
garantidos por por lei. A Lei do Silêncio de todos nós
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