Aécio Neves
Enxugamento da máquina pública com drástica redução no número de
ministérios e cargos de confiança, combate rigoroso à corrupção e adoção
de outros mecanismos capazes de reduzir o custo Brasil são algumas das
propostas centrais do plano de governo do candidato à Presidência da
República pelo PSDB, Aécio Neves. Ele também garante a manutenção dos
programas Bolsa Família e Mais Médicos, mais recursos aos estados e
municípios e uma política de fomento ao agronegócio. Confira em
entrevista exclusiva ao jornal O Paraná.
Como o senhor avalia a gestão do PT nos últimos 12 anos?
Aécio – O Brasil passa por um momento de desmonte de conquistas e
iniciativas importantes que fizeram com que o país ascendesse de posição
no cenário global nas últimas décadas. As principais consequências da
má gestão do PT são a ameaça à estabilidade da nossa moeda, o Real, a
interrupção da agenda de reformas estruturais, e o abandono de políticas
que deram solidez a nossas instituições e melhoraram as condições de
competitividade da nossa economia, como a responsabilidade fiscal e a
atuação autônoma dos órgãos reguladores. O PT só acertou quando copiou a
agenda do PSDB. Quando assumiu o governo, lá atrás, o presidente Lula
acertou ao manter os pilares macroeconômicos intocáveis – meta de
inflação, câmbio flutuante, superávit primário. Pena que a partir da
metade de seu segundo mandato isso vinha sendo flexibilizado.
Como o senhor avalia os casos de corrupção ocorridos durante o Governo do PT e o mais recente, envolvendo a Petrobras?
Aécio – O País nos cobra a necessidade de uma reforma política, onde
não haja mais qualquer espaço para a conivência, o aparelhamento, o
compadrio, os desvios de conduta e a corrupção endêmica que tomou de
assalto o estado nacional. Parte expressiva da população avalia que as
denúncias de corrupção, de ineficiência administrativa, de aparelhamento
da máquina pública, chegaram perto do Partido dos Trabalhadores. O
chamado malfeito, para usar um termo que a presidente gosta de usar, só
foi enfrentado quando se transformou em escândalo. A Petrobras é um
exemplo, porque deixou de ser uma alavanca do desenvolvimento econômico
para atender os interesses de um grupo político.
A eficiência na administração pública passa pela redução dos ministérios?
Aécio – Temos hoje 39 ministérios, o que é quase um absurdo. Apenas
como referência, um estudo da Universidade de Cornell, nos Estados
Unidos, feita em mais de 100 países, mostra que os países que apresentam
melhores serviços públicos são aqueles que têm entre 20 e 23
ministérios. Quando o presidente Fernando Henrique deixou o governo
tínhamos, se não me engano, 22 ou 23 ministérios. Acho que esse seria o
número adequado. Tenho defendido, e foi o que fizemos em Minas Gerais
com muito êxito, a necessidade de gastar menos com as despesas do
Estado, cargos, funcionários, carros oficiais, assessores, tudo o que
envolve a estrutura dos ministérios, para podermos investir mais em
benefícios da população.
A grande reivindicação do setor produtivo é a criação de mecanismos
que combatam o chamado Custo Brasil e ampliem a competitividade dos
produtos brasileiros. Como alcançar estes objetivos?
Aécio – A prioridade do nosso Governo será declarar guerra ao Custo
Brasil. Sabemos que o problema começa com a falta de infraestrutura, com
a falta de logística e, sobretudo, com a falta de estratégia. Nenhum
esforço de governo terá consequência objetiva se não resgatarmos a
capacidade competitiva de quem produz no Brasil. A proposta é realizar
um choque de infraestrutura no Brasil, atraindo o capital privado com
regras claras e definidas.
Como enfrentar a perda de competitividade de setores como o agronegócio?
Aécio – A produção do agronegócio brasileiro, da porteira para
dentro, é exemplar. Não há no mundo setor do agronegócio mais
competitivo do que o brasileiro. É exatamente essa atividade que vem
sustentando o nosso PIB, as nossas contas externas, gerando milhões de
empregos e, em grande parte, única e exclusivamente, com base no esforço
do produtor. Mas não há hoje no Brasil, uma visão estratégica em
relação à importância dessas ações. Sabemos que o problema começa da
porteira para fora, com a falta de infraestrutura, com a falta de
logística e, sobretudo, com a falta de estratégia. Por isso, a proposta
do meu Plano de Governo é restaurar a importância do Ministério da
Agricultura, que será transformado em um super Ministério da
Agricultura, com um papel decisivo na formulação, inclusive, das
políticas de investimento em logística e infraestrutura.
Os estados brasileiros têm enfrentado muitas dificuldades. É possível
modificar essa situação sem prejuízo das atribuições do governo
federal?
Aécio – Esta é uma das medidas que tenho defendido há muitos anos,
desde quando fui governador de Minas Gerais. O governo do PT está
transformando o Brasil num estado unitário, colocando estados e
municípios cada vez mais dependentes, com pires na mão. Isso não é justo
com o Brasil. Precisamos tomar medidas claras e termos uma agenda de
medidas necessárias para restabelecer a capacidade de municípios e
estados, eles próprios, enfrentarem suas dificuldades. É perfeitamente
factível mudar essa situação, precisamos rapidamente reorganizar e
reequilibrar a Federação. Mas para isso é preciso um governo que tenha
generosidade e o nosso terá.
Caso eleito, como o senhor vai tratar os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família?
Aécio – No meu governo, eu pretendo não apenas manter o Bolsa
Família, como também ampliá-lo e aprimorá-lo. Os programas sociais que
têm dado certo, não são programas de partido ou de um governo, são
programas da sociedade brasileira. Foi por isso que apresentei no Senado
Federal um projeto que transforma o Bolsa Família em programa de
Estado, para que seja definitivo, independentemente de quem seja o
governo ou o partido político que vença as eleições. O outro projeto
apresentado por mim no Senado propôs a extensão do pagamento por mais
seis meses para os beneficiários que conseguirem emprego de carteira
assinada. O meu maior compromisso é fazer um governo para as pessoas. Um
governo responsável, corajoso, que pense naquele que mais precisa da
ação do Estado.
Na saúde, o programa Mais Médicos será mantido?
Aécio – Ninguém pode ser contra Mais Médicos, acho que a simples
expressão “Mais Médicos” é algo que todos temos que ser favoráveis. O
Mais Médicos é bem-vindo, mas com novas regras. O que pretendemos é que
não haja mais a necessidade de médicos estrangeiros no Brasil. Ao longo
do tempo as nossas políticas permitirão que essas vagas sejam ocupadas
por brasileiros, formados, que passem pelo Revalida. Se houver
necessidade de médicos estrangeiros, que isso seja apenas uma solução
lateral, e não a solução central. A garantia é de que os cubanos fiquem
no Brasil por mais três anos.
É possível ampliar o controle das fronteiras para impedir o tráfico de drogas e de armas para o país?
Aécio – Não vamos permitir que o flagelo da droga continue afetando
famílias inteiras Brasil afora, problema que cresce em razão do
descontrole das nossas fronteiras. As drogas e as armas, que têm
permitido o aumento da criminalidade, não são fabricados no Brasil.
Temos que ampliar o orçamento da Polícia Federal, que em 2014 teve o
menor volume de recursos desde 2008, para reequipar e ampliar o efetivo
de policiais federais.
Defendo ainda estabelecer uma nova relação diplomática com os países
vizinhos ao Brasil que são produtores de drogas. Não há sentido em
financiarmos estes países e a minha ideia é estabelecer uma relação com
estes governos, em que só haverá contrapartida de nossa parte se houver
reciprocidade. O nosso interesse é reduzir de forma radical o tráfico de
drogas e armas nas nossas fronteiras.
Prioridades
Infraestrutura – “É preciso modernizar, dar maior eficiência e
capilaridade à infraestrutura no Brasil para promover o crescimento
econômico e a melhora da qualidade de vida da população. O objetivo é
investir mais e melhor”.
Educação – “O grande desafio do País nos próximos anos será garantir a
qualidade da educação. O desafio inclui a universalização da Educação
Básica dos 4 aos 17 anos e grande esforço em direção à ampliação do
aprendizado”.
Saúde – “O fortalecimento do SUS será a permanente prioridade do governo na área da saúde”.
Segurança – “Uma política nacional de segurança, coordenada pelo
Ministério da Segurança Pública e Justiça. Vamos por fim também ao
contingenciamento dos fundos de segurança”.