sexta-feira, 10 de maio de 2013

Não há mais inocentes


por Ruy Castro

Segundo pesquisa do Datafolha, o maior temor dos paulistanos –45% dos entrevistados– é o de que os jovens de sua família se envolvam com drogas. Em pesquisa idêntica há 30 anos, esse temor atingia apenas 23%. Cresceu o uso da droga, mas também a consciência do problema.
Não há mais inocentes sobre drogas. Todo brasileiro conhece alguém cujo filho, sobrinho ou neto se envolveu com elas e está levando a família ao martírio –e ele não gostaria que isso acontecesse na sua família. Mas, se não é inocente, o brasileiro continua desorientado e sem informação. Não sabe o que fazer quando se vê com o problema dentro de casa. Não conhece campanhas de prevenção e, ao contrário, o que mais ouve pela mídia é que “é preciso descriminalizar a droga” –como se, liberada, ela deixasse de devastar o usuário.
A maneira pela qual um jovem se aproxima da droga ainda é um mistério para a maioria dos pais. E, no entanto, é muito simples. Para entendê-la, bastaria que se lembrassem de como, há 30 ou 40 anos, tomaram seu primeiro chope ou acenderam o primeiro cigarro. O mecanismo é o mesmo: para fazer parte da turma, não passar por diferente, mostrar-se mais adulto. A diferença é que o efeito “recompensador” da droga é muito maior e mais imediato. Os que se dão bem com as primeiras experiências tendem a repeti-las.
Dar-se bem significa literalmente não se dar mal –sentir prazer, tolerar bem a agressão tóxica do produto e não sofrer os efeitos negativos, equivalentes aos da ressaca no álcool. Os que apresentam menor tolerância recusarão uma segunda oferta. Alguns jovens se darão melhor com uma droga do que com outra.
E ninguém se torna um usuário puro. Todo consumidor, um dia, oferece de graça a droga a um amigo ou compra um pouquinho a mais para revender. A isso se chama tráfico.
*Publicado na Folha de São Paulo

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