terça-feira, 7 de maio de 2013

Redução de gastos no Senado preserva auxiliar de check-in



FERNANDA ODILLA
GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA

Com poucos cliques no computador ou no celular, é possível hoje garantir um assento num avião e confirmar uma viagem. Ainda assim, o Senado mantém nove funcionários, com remuneração líquida entre R$ 14 mil e R$ 20 mil, para fazer check-in e despachar malas dos senadores.
Os carregadores de luxo, ou "funcionários do setor de serviços aeroportuários", são apenas uma das regalias desfrutadas pelos senadores.


Eles atuam no Aeroporto de Brasília, onde os congressistas têm à sua disposição uma espécie de sala "vip" para aguardarem o embarque.
A sala permite que eles esperem a chamada para os voos separadamente dos demais passageiros.

Alan Marques/Folhapress
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.   
Por mês, cada senador tem direito a cinco passagens aéreas de ida e volta da capital do seu Estado para Brasília.
A escolha dos voos segue a agenda dos congressistas, o que leva o Senado a pagar com frequência tarifas cheias --sem descontos oferecidos pelas companhias aéreas.
No desembarque, os senadores têm carro e motorista pagos com recursos da Casa.
Segundo a assessoria do Senado, os nove funcionários trabalham exclusivamente no aeroporto, mesmo quando não há senadores chegando ou saindo de Brasília. Nessas situações, diz a assessoria, eles cuidam de embarques e desembarques futuros.
PACOTE
Em fevereiro, quando assumiu o cargo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou medidas que vão reduzir os gastos da instituição em mais de R$ 300 milhões --mas a reforma administrativa não atinge as "regalias" concedidas aos parlamentares.
Os principais alvos da gestão austera anunciada pelo peemedebista são os servidores da Casa.
Foram extintos, por exemplo, o serviço ambulatorial gratuito no Senado, contratos de mão de obra com empresas terceirizadas e funções de assessores.
Mas os senadores continuam desfrutando de benefícios como atendimento médico sem limite de reembolso (extensivo a cônjuges e dependentes até 21 anos).
Eles também possuem assinatura de revistas e jornais por conta do Senado e reembolso ilimitado para gastos com telefones celulares.
A reforma administrativa de Renan também não atingiu setores que oferecem "mimos" aos congressistas.
O Senado mantém, por exemplo, um staff de 32 pessoas para administração das residências oficiais de Brasília onde moram senadores.
Eles fazem serviços de marcenaria, instalações hidrossanitárias, elétricas e até "apoio operacional" na cidade do Rio de Janeiro.
O serviço de apoio no Rio é uma herança do período em que a cidade era a capital do país, embora a transferência para Brasília tenha ocorrido em 1960.
Renan prometeu extinguir as funções de servidores lotados no Rio, mas eles permanecem na lista oficial do Senado, atualizada no início deste mês.
SUPERSALÁRIOS
Garçons exclusivos para o plenário e para a sala de cafezinho do Senado ganham de R$ 6 mil a R$ 10 mil para servir um cardápio com queijo picadinho e misto quente.
Renan Calheiros, por sua vez, tem uma espécie de "mordomo" na residência oficial, que ganha cerca de R$ 11,3 mil líquidos.
Apenas quatro dos 41 servidores que cuidam dos "mimos" dos senadores ganharam menos de R$ 10 mil em março, segundo o Portal da Transparência do Senado.
A remuneração de nove deles foi acima de R$ 20 mil líquidos no mês.
Nesse mesmo período, a remuneração líquida da presidente Dilma Rousseff foi de R$ 19,8 mil.
OUTRO LADO
O Senado nega que a reforma patrocinada por Renan Calheiros (PMDB-AL) tenha promovido cortes que pouparam os senadores.
Informa ainda que o corte de gastos é "gradual".
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Casa listou medidas que atingiram os congressistas, como "extinção de uma função comissionada em cada gabinete de senador, de liderança e de membros da mesa; redução do número máximo de servidores por gabinete para 55; publicação no Portal da Transparência dos bens e serviços contratados" com recursos da cota parlamentar.
Nenhuma delas, contudo, corta regalias historicamente concedidas aos parlamentares da Casa.
O Senado não respondeu a questionamentos específicos da Folha sobre a manutenção dos servidores responsáveis pelo check-in e despacho de bagagem no aeroporto de Brasília, nem dos funcionários lotados no escritório de representação no Rio.
O Senado informou também que há novos cortes de despesas em análise pela cúpula da Casa.
Dentre eles a redução do consumo de energia e a aquisição de passagens aéreas mais baratas.
Em relação aos supersalários, o Senado alega que a maioria dos servidores têm cerca de 30 anos de serviços prestados.
Isso, afirma a assessoria, lhes garante salários mais altos e outros ganhos que fizeram a remuneração do mês de março ser muito próxima à recebida pela presidente Dilma Rousseff.

Nenhum comentário:

Postar um comentário