Foi uma eleição particularmente suja e desigual, onde quem detinha o poder tudo fez para não abrir mão dele.
Ricardo NoblatDeu a louca no PSDB quando pediu à Justiça uma auditoria nos resultados da recente eleição presidencial. A razão do pedido? Rumores nas redes sociais sobre eventuais fraudes aqui e acolá. Nada mais do que rumores.
Convenhamos: é pouco, quase nada para que se lance suspeição sobre o processo eleitoral. Ou há fatos concretos que justifiquem uma auditoria ou tudo não passa de choro de mau perdedor.
Isso não significa que a eleição deste ano esteja destinada a passar à História como uma rara demonstração de exuberante maturidade da democracia brasileira. Longe disso.
Foi uma eleição particularmente suja e desigual, onde quem detinha o poder tudo fez para não abrir mão dele. E acabou se dando bem. Dilma, Lula, o PT e a Justiça Eleitoral são responsáveis por uma inesquecível lambança. Confira.
* Intimidação ou um “liberou geral”? “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição.” Dilma, em um ato falho (04/03/2013).
Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* Ameaça? “Eles não sabem o que nós seremos capazes de fazer, democraticamente, pra fazer com que você seja a nossa presidenta por mais quatro anos neste país”. Lula, para Dilma (13/06/2014). Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* Uso da máquina pública? “Os Correios trabalharam com as 66 mesorregiões. Fizemos reuniões em todas e nas macrorregiões. Lá em Viçosa, nós tínhamos 70 cidades e por aí, aonde eu estive perto, eu fui acompanhando. A Dilma tinha em Minas Gerais, em alguns momentos, menos de 30%. Se hoje nós estamos em 40% em Minas, tem o dedo forte dos petistas dos Correios.” Durval Ângelo, deputado estadual do PT de Minas.
Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)? Por que não testou as urnas? “Apesar de reconhecer que os testes de segurança das urnas eletrônicas fazem parte do conjunto de atividades que garantem a melhoria contínua deste projeto, o TSE não fez nenhum antes das eleições de outubro. Desde 2012, aliás, o tribunal não expõe seus sistemas e aparelhos à prova de técnicos independentes.” (O Globo, 04/06/2014)
Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* Por que mudou a postura do TSE? No primeiro turno em que a campanha de Dilma estraçalhou Marina sem que ela revidasse na mesma moeda, o TSE deixou correr solta a pancadaria. No segundo, Dilma repetiu a dose contra Aécio. Assim que ele começou a revidar, o TSE interveio. E decidiu: dali por diante, só valeriam mensagens “propositivas”.
Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* E daí? O TSE proibiu telemarketing em campanhas eleitorais. Certo? Depende. Milhões de SMS foram enviados contra Aécio, com mensagens que beiraram a injúria, a calúnia e a difamação, além de chantagem e intimidação explícitas envolvendo os programas Bolsa-família, Minha Casa, Minha Vida, e outros. A ação revoltou internautas, que postaram sem parar imagens das mensagens recebidas em seus celulares.
Isso pode? Não, não pode... Mas pode.
* Foi mal? Um ministro do TSE proibiu uma consultoria financeira – privada! – de fazer propaganda de seus relatórios de análise em espaços – privados! – na internet. Isso pode? Não, não pode... Tanto que o pleno do TSE, com a participação dos demais ministros, revogou a proibição.
Poucos dias depois, o mesmo TSE proibiu a revista VEJA de anunciar sua edição semanal, como costuma fazer, em rádios, televisões e outdoors.
Isso pode? Não, não pode. Mas pode.
Posso escrever sem receio o que escrevi até aqui? Acho que posso... Mas talvez não possa. Sei lá. A ver.
Tribunal Superior Eleitoral, plenário (Imagem: Divulgação)
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