terça-feira, 28 de outubro de 2014

Depois da derrota, a resistência democrática se tornou mais musculosa do que nunca


Do Augusto Nunes
Um post de 5 de outubro constatou que Aécio Neves começou a cruzar a fronteira do segundo turno no momento em que ignorou o palavrório de marqueteiros poltrões, assumiu o comando da própria campanha, declarou guerra à corrupção impune e se transformou no candidato do Brasil indignado com o clube dos cafajestes no poder. Os 35 milhões de brasileiros que votaram no candidato do PSDB compreenderam que a oposição real enfim se sentia representada por um candidato da oposição oficial.
Além do Jesus Cristo de chanchada e da protetora de bandidos que finge combater, os 34% obtidos por Aécio derrotaram blogueiros canalhas, parteiros de boatos infamantes, assassinos da honra alheia, comerciantes da base alugada, colunistas sabujos, analistas de araque, milicianos da esgotosfera e fabricantes de profecias encomendadas. Ao longo desse duelo com a tribo dos sem-vergonha, o senador mineiro também ministrou uma aula de tenacidade, coragem e altivez aos aliados pusilânimes e a cabos eleitorais que se vergam a malandragens tramadas por qualquer Maquiavel de picadeiro.
Candidatos confrontados com tantos reveses sucessivos costumam sucumbir ao desânimo, ressalvou o texto. Aécio não parou de sonhar com a arrancada improvável ─ e sobreviveu à epidemia de descrença. Repetiu a performance no segundo turno, envilecido pela selvageria da seita liderada por um especialista na disseminação de calúnias, injúrias, difamações e outras invencionices abjetas. A entrada em cena de Lula transformou o que já era uma campanha repulsiva na mais torpe da história do Brasil republicano.
Insinuadas por Dilma, recitadas aos berros por Lula e vendidas como fatos comprovados pela rede de esgoto digital, torpezas de grosso calibre tentaram reduzir o candidato do PSDB a “bêbado”, “drogado”, “agressor de mulheres”, “grosseiro com a presidenta”, “playboy” ─ não houve limites para o vale-tudo. Valente, Aécio cumpriu a promessa que fizera quando as tropas petistas intensificaram a ferocidade dos ataques: “Quanto mais mentiras contarem sobre nós, mais verdades contaremos sobre eles”.
Mais de 51 milhões de votos confirmam que Aécio Neves se identificou exemplarmente com os brasileiros que, à margem dos partidos, combatem há 12 anos a seita cujos devotos aprendem que o único pecado mortal é perder uma eleição. Pela primeira vez, um líder político enfrentou de peito aberto o bando que institucionalizou a corrupção impune, aparelhou a máquina federal e sonha com a destruição do Estado Democrático de Direito. O PT e seus parceiros alugados não metem medo em mais ninguém.
O partido que prometia modernizar o país vai sendo confinado nos grotões atulhados de gente que acredita em qualquer coisa dita por coroneis fantasiados de guerreiros do povo. A sobrevivência do PT, quem diria, hoje depende dos seus dependentes. Precisa manter o tamanho da freguesia do Bolsa Família porque perderia a eleição com o emagrecimento do maior programa oficial de compra de votos do planeta. Não pode melhorar a educação porque quem se informa, estuda e aprende acaba descobrindo o que é o PT ─ e vota na oposição.
Dilma Rousseff quer agora dialogar com a oposição? Os lulopetistas não sabem conjugar esse verbo. Cumpre à oposição continuar a opor-se a um governo que tem complicações políticas a superar, complicações econômicas a resolver e complicações policiais a explicar. É uma velharia agonizante. Pode até durar alguns anos, mas já respira por instrumentos.
A derrota singularmente honrosa consolidou a frente oposicionista que faltava ao país. Vitoriosa no Brasil que faz, produz, inova, emprega, exporta, importa, compra e vende, a oposição tem programa, tem voto e tem um líder nacional amparado por 51 milhões de eleitores. A disputa nas urnas terminou. A resistência democrática não para. E nunca foi tão musculosa.

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