quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Compulsão do golpe



Do Luiz Geraldo Mazza, Folha de Londrina

Quando apareceram os primeiros vestígios do mensalão, ainda sob Lula, a primeira acusação era a de que tudo partia da mídia golpista. Na verdade as revelações do racha no poder, aliás com abundante gravação comprobatória, partiram de um integrante da base aliada, o deputado federal Roberto Jefferson, e que denunciou os detalhes da partilha operada pelo “primeiro ministro” José Dirceu.
Agora quando são liberados depoimentos de uma das dez ações penais da Operação Lava Jato, que não tramitam em segredo de justiça, quem estrila é a presidente Dilma Rousseff alegando o uso político da informação e novamente falando em “golpe” como já se dera com o evento anterior de dimensão mínima se confrontado com a catástrofe atual do propinoduto da Petrobras. O juiz Sérgio Moro explicou que os depoimentos relativos à delação premiada de Paulo Roberto Costa e Youssef permanecem sob sigilo e os levados à divulgação, posto que tratem do mesmo tema, “estão sujeitos ao princípio da publicidade”.
Na verdade os feitos em tela não parecem ter atingido parte expressiva da população ou pelo menos a conexão não foi captada, razão pela qual a sua gravidade não chegou à massa eleitoral. É evidente que o pedágio dos 3% no meio de operações bilionárias superfaturadas é denúncia gravíssima e mostra que o petrolão é um mensalão com distúrbio glandular.
Ontem foi a vez do Ministério Público Federal ratificar o que o juiz havia dito em torno dos fatos enunciados e que não estavam sob sigilo.
Não é a primeira vez na história que uma eleição presidencial fica sujeita à intervenção do Judiciário e dentre elas dá para lembrar a da novembrada de 1955 em que foi negado ao presidente da Câmara Federal, Carlos Luz, assumir o governo porque os tanques militares já estavam nas ruas e foi lamentável ver o despacho do ministro Nelson Hungria sobre o episódio com o argumento final, acima dos textos constitucionais, mas em cima da realidade emergente, a do aparato bélico bem próximo do Congresso.
Há quem tema justamente isso: alguma decisão da instância superior, fixando bloqueios (embora o estrago já produzido) a novas revelações processuais.

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