Americanos e parte dos europeus e de países em desenvolvimento consideram perfil do brasileiro ideal para a sucessão de Bento XVI
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Márcio Fernandes/AE
d. Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo
O problema, no caso das eleições que devem começar na semana que vem, é que escândalos de abusos sexuais praticamente frearam qualquer chance de que um dos cardeais dos EUA ganhe um amplo número de votos. A escolha de vários deles, portanto, seria d. Odilo Scherer.
Em Roma, esse grupo já começou a buscar apoio de outros cardeais para que, na primeira votação no conclave, Scherer apareça com um número significativo de votos. "Isso será fundamental na primeira rodada. Depois, só Deus saberá o que vai ocorrer", disse uma fonte próxima aos cardeais americanos.
A estratégia é encontrar apoio na Europa, o que ajudaria a romper uma eventual coalizão no Velho Continente em torno de um nome local.
Perfil adequado. O brasileiro é visto como tendo vários dos elementos do perfil que a Igreja busca no futuro papa. Com 63 anos, é um dos mais jovens do grupo - e, apesar de jovem, é considerado como alguém de grande confiança pela cúpula do clero em Roma. Prova disso é que foi reconduzido ao cargo de inspetor das contas do Instituto de Obras Religiosas, o Banco do Vaticano. Isso em meio a uma profunda crise na instituição.
Scherer também serviria como um "relações públicas" para a Igreja, que mostraria que está disposta a ter um papa de fora da Europa, como críticos vêm pedindo. Outra vantagem seria o alinhamento do brasileiro ao pensamento teológico da cúpula e o fato de que uma eventual eleição não representaria uma "revolução".
O grupo de apoio a d. Odilo Scherer também espera que o brasileiro tenha chances graças à divisão cada vez mais profunda entre os cardeais italianos. Desde o anúncio da renúncia de Bento XVI, um lobby pró-italiano tem feito parte das especulações sobre o novo papa. Para muitos no Vaticano, o país precisaria recuperar o trono de Pedro, depois de mais de 30 anos de ausência.
Mas, à medida que o conclave se aproxima, os 23 cardeais italianos com poder de voto não conseguem chegar a um acordo para o lançamento de um nome único. Angelo Scola, de Milão, é o favorito de Bento XVI. Mas sofre a resistência de parte do clero italiano, que preferiria alguém com um perfil menos conservador.
Outra prova de que Scherer sabe que está sendo citado amplamente como um dos favoritos é o fato de ter evitado dar entrevistas, algo visto dentro do clero como autopromoção.
Na semana passada, em conversa rápida com a reportagem do Estado enquanto entrava apressado em sua residência, afirmou que a decisão de Bento XVI de renunciar ao cargo mostrava "uma grandeza de alma" e uma enorme "honestidade" com relação à Igreja.
De acordo com dom Odilo, Bento XVI demonstrou ter a consciência de que já é um homem idoso, sem condições de levar adiante a difícil missão de liderar a Igreja. "É um gesto que nos surpreende e, ao mesmo tempo, um gesto de grandeza."
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