Augusto Nunes
Por essa ela não esperava. Depois de dar um pito nos mortos e repreender os sobreviventes que teimam em adiar a mudança para alguma das 6 mil casas que não construiu, Dilma Rousseff imaginou que as coisas haviam ficado muito claras: os culpados por tragédias causadas por inundações e deslizamentos são as vítimas. Ao reaparecer na Região Serrana para a missa desta segunda-feira, portanto, seria decerto recepcionada por uma demasia de flagelados grávidos de gratidão, ansiosos por pedir-lhe desculpas e agradecer a visita a Petrópolis.
Não é qualquer cidade que tem a honra de ver de perto uma recordista mundial de popularidade. Segundo o Ibope, falta só a adesão de um punhado de descontentes profissionais para que todos os brasileiros ─ dos bebês de colo aos nonagenários senis, dos doidos de pedra aos gênios da raça ─ atravessem o dia aplaudindo de pé a supergerente que Lula descobriu. Segundo o Datafolha, tudo anda tão bem que, se melhorar, estraga. Tanto assim que, a um ano e meio da eleição, está resolvido que Dilma continuará alojada no Planalto até 2018. Ou porque não foram informados de que habitam o paraíso, ou porque são eles os gatos pingados que impedem a chegada aos 100% de popularidade, dezenas de nativos resolveram piorar o humor da visitante com a cobrança de promessas não cumpridas.
Os manifestantes seriam milhares se a oposição oficial tivesse voltado das férias para contar aos moradores da Região Serrana como foi a passagem por Roma da comitiva mais gorda da história do Vaticano. O Planalto não revelou o número exato de viajantes. É certo que passaram de 50. A agenda oficial só previa a conversa de meia hora com o Papa Francisco. Prevenida, a chefe convocou o exército que costuma mobilizar nos giros pelo exterior (veja reportagem na seção O País quer Saber). Escoltada pelos ministros Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho, Helena Chagas e Antonio Patriota, Dilma Rousseff enfrentou os rigores da primavera europeia entrincheirada no Westin Excelsior. É um dos mais caros da cidade. A diária da suíte Villa La Cupola, por exemplo, custa astronômicos R$ 52 mil.
O restante da turma e parte da “equipe técnica” foram instalados no também estrelado Parco dei Principi. A delegação brasileira ocupou, segundo a Folha, 52 suítes. Foram 25, corrigiu Helena Chagas. Com a placidez de quem revela quantoacabou de gastar numa lojinha 1,99, representantes do Itamaraty juraram que a viagem consumiu R$ 324 mil. Espertamente, a conta excluiu a dinheirama investida num aparato logístico de impressionar general americano no comando de tropas de ocupação.
Para que os campeões do desperdício (e a montanha de malas atulhadas de mercadorias italianas) circulassem com conforto e segurança, foram alugados um carro blindado de luxo, sete veículos sedan com motorista, quatro vans executivas com capacidade para 15 assageiros, um microônibus, um caminhão-baú e dois furgões. Esse colosso sobre rodas fez a gastança subir para mais de meio milhão de reais. Uma casa popular custa cerca de R$ 60 mil. Dilma e seu bando torraram quase dez numa única viagem.
Por falta de obras prontas, Dilma só pôde inaugurar em Petrópolis outro monumento ao cinismo: prometeu construir em 2013 o que jurou que entregaria em 2011. E aproveitou a missa para reapresentar a fantasia de pecadora convertida. Cara de primeira comunhão, voz de noviça obediente, caprichou na pose de quem já consegue distinguir um terço de um colar e recitar sem tropeços a primeira parte do Salve Rainha. Falta descobrir se aprendeu o sinal da cruz.
Em outubro de 2010, o vídeo gravado pela Band no Santuário Nacional de Aparecida revelou ao país que a ex-aluna de colégio de freiras não sabia quando nem como fazer os movimentos verticais e horizontais que até recém-nascidos conhecem. Num momento, só ela deixa de movimentar o polegar. Noutro, é a única que faz o gesto. E erra: em vez de mover o dedo da esquerda para a direita, faz o contrário. Deve ter estudado sinal da cruz com Frei Betto. Ou ensaiado com o ex-seminarista Gilberto Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário