Por CARLOS BRICKMANN - Diário do Poder
O
mensaleiro Jacinto Lamas, condenado à prisão no regime semiaberto por
lavagem de dinheiro, aproveitou duas vezes a saída da Papuda para o
trabalho para passar na igreja Nossa Senhora de Guadalupe. Outro
mensaleiro, Valdemar Costa Neto, passou num McDonald’s drive-thru e
pediu um sanduíche. Que horror!
E
um grande jornal impresso, de circulação nacional, mobilizou cinco
repórteres durante três semanas para apurar essas importantes violações
da disciplina carcerária. Onde já se viu, ir à missa e comer no
McDonald’s?
Certo:
é violação das normas carcerárias. Como é violação (e mais grave) o
encontro de Valdemar Costa Neto com o líder de seu partido na Câmara,
Bernardo Santana. Mas no geral é coisa vagabunda, sem maior importância;
não cabe à imprensa vigiar os detalhes da disciplina nas prisões. Dá a
impressão de perseguição, de que qualquer coisinha chinfrim merece uma
página com manchete de seis colunas. Bem ou mal, aceitem ou não as
normas vigentes, cumprindo ou não as exigências legais de rigor
carcerário, os presos estão presos, foram condenados, receberam forte
marca negativa em sua reputação, deixaram claro que aproveitaram sua
passagem no Governo para fins pouco republicanos. Cabe à imprensa
afligir os confortáveis e, num caso como este, deixar que os aflitos
enfrentem seus problemas, sem procurar agravá-los.
O
cumprimento da pena dos condenados do Mensalão, sem dúvida, virou um
pandemônio. O governador de Brasília, por ser governador e arrogante,
arroga-se o direito de visitar seus companheiros de partido presos na
Papuda na hora em que quiser (e colegas de Congresso também tentaram
transformar o presídio numa grande festa, aparecendo a qualquer hora,
levando convidados – só faltou mesmo a cerveja, se é que faltou).
Delúbio Soares está trabalhando dentro do partido (ficou melhor do que
esteve antes, quando tinha sido expulso e não podia aparecer
publicamente por lá), e fazendo o que sabe: arrecadou um monte de
dinheiro para pagar as multas dele, parte da multa dos outros e isso é o
que se sabe. José Dirceu, segundo seu próprio companheiro petista
baiano, tinha um telefone celular à disposição e o usou para conversar
com ele. Prisão com telefone celular não é prisão: é escritório em que não se paga aluguel.
As
desculpas são tão ridículas quanto a reportagem sobre o temerário ato
de ir à missa: o líder do PR na Câmara, por exemplo, depois de negar a
visita a Valdemar Costa Neto, ex-presidente do partido, acabou cedendo
depois que soube que tinha sido fotografado. Mas garantiu que os dois
não trataram de política.
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