terça-feira, 29 de abril de 2014

Os sentimentos de revolta ou repulsa que crescem no país

Diário do Poder

Acílio Lara Resende

Procuro transmitir, nestas linhas, o que de fato penso. Submeto-me, na escrita, a uma forma que respeite os princípios básicos da civilidade e, dentro das minhas limitações, os da língua pátria. Mas o respeito ao leitor, a quem devo atenção, é a minha maior preocupação.
Júlio César Cardoso não é apenas um leitor, pois ele também escreve textos e os envia a mim com frequência. Num deles (um dos mais recentes), fez menção ao justo sentimento da filósofa e poeta Adélia Prado (“Estamos vivendo um tempo muito cinzento, uma ditadura disfarçada”), mas, ao se referir, especificamente, a um dos meus artigos, afirmou o seguinte: “Para mim, a política é a arte de tirar proveito da coisa pública. Para Lênin, onde termina a política, começa a trapaça”.
Júlio extravasa um sentimento de revolta, de repulsa, hoje dominante no país, conforme têm mostrado as últimas pesquisas de opinião: “Aliás, hoje em dia” – continua ele em sua amargurada crítica –, “ninguém sabe onde começa a política, pois, nem bem acabam de ser eleitos, os nossos políticos já maquinam as suas reeleições. Conclusão: com raríssimas exceções, só há trapaceiro exercendo a política”. E arremata: “Ninguém (na política) está preocupado com a população e com o meio em que vive. Ninguém está preocupado com uma educação pública de alta qualidade, nos moldes da Nova Zelândia, Noruega, Suécia etc. Ninguém está preocupado com a qualidade do serviço de saúde pública. Ninguém está preocupado com a falta de segurança pública. Mas os nossos políticos e o governo estão preocupados com magnos eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, com políticas eleitoreiras de cotas raciais nas universidades e serviços públicos, com abafamento de irregularidades envolvendo políticos e governos etc.”. E Júlio encerra, finalmente, seu compreensível desabafo: “Enfim, os nossos políticos só dão despesas inúteis ao país”.
Depois do desabafo de Júlio César Cardoso, vieram-me à mente, em primeiro lugar, a presidente Dilma Rousseff e o que disse ela sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que provocou um prejuízo à Petrobras de US$ 1,2 bilhão. Dilma era presidente do Conselho de Administração da empresa, cargo que acumulava com o de ministra-chefe da Casa Civil, e, segundo afirmou, a aquisição da refinaria foi um péssimo negócio, mas, ao autorizá-lo, se baseou em “relatório técnico e juridicamente falho”. Pretendeu escapar de uma responsabilidade que é inegavelmente sua. Diante disso, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli afirmou, em entrevista a “O Estado de S. Paulo”, que ela não poderá “fugir da sua responsabilidade”.
Já o deputado petista André Vargas, que até outro dia exerceu o cargo de primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, tentou usar a mentira várias vezes para se safar das relações que mantinha com o doleiro Alberto Youssef. “Não dá para dizer que ele é meu amigo”, disse Vargas em dado instante. “É, no máximo, um conhecido que me procurava para trocar ideias”, afirmou depois. Foi desse “conhecido” que o deputado recebeu de presente uma viagem, com a família, num Learjet 45, alugado pela bagatela de R$ 100 mil.
O deputado André Vargas, pressionado pelo partido, deverá renunciar ao mandato. Mas, e a presidente Dilma? Será que lhe assiste o benefício, concedido ao imperador do Brasil pela Constituição de 1824, de não ser responsável por nenhum dos seus atos?
Citei dois exemplos, mas há muitos outros por aí.



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