sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Atenção: essa notícia contém linguagem chula

Do Josias de Souza:

O noticiário sobre o Congresso Nacional, por vergonhoso, deveria circular dentro de envelopes pretos. Como não dá para envelopar o computador, convém adotar certas precauções. Os adultos, responsáveis pela eleição dos congressistas, só devem ler acompanhados de crianças.
Nesta quinta-feira (5), desentenderam-se na Câmara o líder de Dilma Rousseff, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o deputado Sebastião Bala Rocha (SDD-AP). Em visita à Casa, estavam nas galerias três dezenas de alunos do ensino fundamental, crianças de 10 a 12 anos.
A garotada ficou sabendo por Chinaglia que Bala Rocha é um sujeito “desleal” e teve péssimo berço: “Só quero dizer uma coisa para Vossa Excelência: graças à minha formação, eu nunca fui algemado na minha vida”, disse o líder do governo, evocando uma operação da PF, na qual o colega foi em cana sob suspeita de desviar verbas públicas e fraudar licitações. Coisa de 2004.
A meninada também ficou sabendo que, na opinião de Bala Rocha, Chinaglia é filho de uma senhora que, tendo exercido a profissão de prostituta, lhe deu à luz sem ter condições de apontar com precisão quem é seu pai. “Eu fui injustiçado, seu porra!”, disse ele para o líder do governo antes de pespegar: “Seu filho da puta!”
O microfone foi silenciado rapidamente. Mas Bala Rocha não se deu por achado. “Você é um grande vagabundo”, gritou para Chinaglia, recomendando que lembrasse de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, os petistas condenados e presos do mensalão.
Pouco depois, o deputado Luciano Castro (PR-RR) escalaria a tribuna da Câmara para ler a carta de renúncia do correligionário Valdemar Costa Neto (PR-SP), outro mensaleiro recolhido ao xilindró nesta quinta. Na véspera, o líder petista José Guimarães (PT-SP), irmão do preso domiciliar Genoino, discursara do mesmo microfone para exaltar o condenado como um mártir.
Na Casa ao lado, o senador Zezé Perrella (PDT-MG) discursava sobre os 442 kg de cocaína que a PF apreendeu no interior do helicóptero de empresa de sua família, pilotado por uma pessoa que estava na folha salarial do gabinete do seu filho, o deputado estadual mineiro Gustavo Perrella (SDD).
“Cinquenta manifestantes foram na porta da Assembléia jogar farinha”, disse Perrela, o pai, queixando-se de um ato que teve o filho como alvo. “Estão querendo transformar isso em evento político, na base da sacanagem com quem não merece. Eu fumo cigarro. Mas meu filho nem isso! Ele não bebe —às vezes uma cervejinha, no churrasquinho.”
Como se vê, o Congresso Nacional torna-se cada vez mais um Poder duro de roer. Por sorte havia crianças no recinto nesta sexta. A solução talvez seja reduzir a maioridade eleitoral para cinco anos e proibir o voto para maiores de 18 anos. Já está demonstrado que os brasileiros adultos não sabem o que fazer com o dedo indicador quando estão diante de uma urna eletrônica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário