Durante entrevista transmitida por site de fundação do PT, ex-ministro afirma que o processo do mensalão não acaba no STF e nega intenção de deixar o País
Por Pedro Venceslau, do jornal O Estado de S. Paulo
No momento em que aguarda o desfecho do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu aproveitou uma entrevista exclusiva para a Fundação Perseu Abramo, do PT, nesta terça-feira, 10, para fazer um desabafo público.
“Fui o principal alvo da inveja de setores da elite desse País que não se conformam com a liderança do (ex-presidente) Lula no mundo e a vitória de Dilma. Fui escolhido para ser símbolo dessa mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade contra nós”, afirmou.
Durante a entrevista, transmitida ao vivo pelo site da fundação, Dirceu disse ainda que o processo do mensalão “não acaba no STF” e reafirmou que pretende recorrer às cortes internacionais. “Vou continuar me defendendo”.
Em tom emotivo, classificou a cassação de seu mandato de deputado federal como “uma mancha” na história da Câmara e disse que foi “obrigado” a se dedicar às atividades de advogado e consultor. “Essa nunca foi minha opção. Minha natureza é política”.
Dirceu também negou ter planos de fugir do Brasil. “Fico indignado quando dizem que vou fugir. Sou acima de tudo um brasileiro”. Por fim, Dirceu fez uma auto-crítica. “Cometi muitos erros, mas não sou responsável por esse de que me acusam”.
Uma guinada à esquerda
Nos blocos anteriores, o ex-ministro criticou partidos da oposição e defendeu uma guinada à esquerda na estratégia eleitoral do PT em 2014. “Os partidos de centro esquerda – PCdoB, PSB, PDT e PDT – devem ser o núcleo da nossa coalizão, que não pode ser dirigida pelas forças conservadoras”.
Apesar de não citar diretamente o PMDB, a afirmação de Dirceu faz eco às críticas feitas pelas tendências mais à esquerda do PT que disputam à presidência da sigla. O ex-ministro também criticou o PSDB: “A direita brasileira tem complexo de vira-lata e é avessa ao povo. E o povo vê o PSDB assim, como um partido elitista”.
Julgamento pode acabar amanhã
A sessão do Supremo Tribunal Federal, quarta-feira, 11, pode ser a última do julgamento do processo do mensalão. É aguardada a definição sobre se a Corte vai julgar ou não os embargos infringentes dos réus — questão que pode levar a um segundo julgamento dos condenados, incluindo Dirceu.
Se o STF decidir não julgar os embargos, a condenação de José Dirceu a 10 anos e 10 meses de detenção por comandar o esquema não poderá mais ser alterada.
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