Quase deixo de comentar um momento, vamos
dizer, infantiloide do ministro Roberto Barroso no julgamento desta quinta. Ao
evidenciar como ele se preocupa com as pessoas, lembrou na Marco Aurélio que as
pessoas que cobram severidade da Justiça logo mudam de ideia se um parente seu
é réu.
Ulalá! Quando eu era professor de redação
e temas polêmicos suscitavam debates, não raro um aluno indagava: “Reinaldo,
você é a favor ou contra a pena de morte?”. E eu: “Contra!”. Quase fatalmente
vinha a suposta contradita: “Ah, mas se um parente seu fosse vítima…”.
Aí vinha o longo percurso para explicar a
diferença entre justiça e vingança; entre um julgamento feito segundo as regras
do estado de direito e o linchamento; entre a pena de morte e a legítima
defesa… Mas notem: eu lidava com adolescentes.
Barroso deve ter lido “Como Vencer um
Debate Sem Precisar Ter Razão”, de Schopenhauer, e deve ter adotado os 38
estratagemas como táticas virtuosas. A resposta de Marco Aurélio foi excelente:
“Não me impressiona o transporte da situação enfrentada para o campo familiar, mesmo porque, se parente até o terceiro grau (fosse), eu não poderia julgar. (…)”
“Não me impressiona o transporte da situação enfrentada para o campo familiar, mesmo porque, se parente até o terceiro grau (fosse), eu não poderia julgar. (…)”
Assim caminhamos… Ainda haverá a hora em
que alguém da suprema corte brasileira vai dizer: “Ah, queria só ver se fosse
com a sua mãe…”.
Para registro: Marco Aurélio é primo
distante de Collor — de quarto grau, acho. Mesmo assim, já ministro do Supremo,
declarou-se impedido de participar do julgamento do ex-presidente, em 1994.
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